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É fácil, perante o terramoto dos últimos dias, ceder ao pessimismo. Multiplicam-se as análises que anteveem a paralisação da economia e o princípio do fim das boas surpresas orçamentais. Desconfiamos dos órgãos de soberania e da contaminação da causa pública por interesses privados. Questionamos a solidez da atividade do poder judicial. Olhamos para o calendário e vemos meses de um poder diminuído, a que pode seguir-se uma eleição pouco clarificadora.
TSF\audio\2023\11\noticias\12\12_novembro_2023_a_opiniao_de_ines_cardoso_a_turbulencia_dos_ultimos_dias_deve_mobilizar_nos_para_a_politica_e_nao_afastar_nos_dela
Apesar das dúvidas, não há que ter medo do voto, mesmo que dele resultem soluções minoritárias. Tendemos a caminhar para sistemas de governação cada vez mais fragmentados e marcados pela instabilidade. A política assenta precisamente na negociação e no diálogo construtivo - não é uma luta corpo a corpo para decidir quem grita mais alto.
Também não há que ter medo do populismo, do extremismo, da discriminação, da xenofobia, do nepotismo, do compadrio, da cunha, da pressão, da mentalidade que nos mantém pequeninos. Mesmo que por vezes pareçam agigantar-se, todas essas chagas combatem-se energicamente com os valores e as portas que Abril abriu, numa luta permanente e sempre inacabada.
O medo paralisa. A democracia, pelo contrário, é a escolha da esperança e este é o momento de nos deixarmos mobilizar por ela. Só assim conseguiremos contribuir, na intervenção cívica, na solidariedade coletiva, no sentido crítico e na palavra que toca onde mais dói, para um projeto que nos fortaleça como sociedade.
A culpa de nos sentirmos derrotados coletivamente até pode ser deles, os políticos. Mas o caminho para um futuro mais inteiro depende de cada um de nós.
