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Ao mesmo tempo que a ministra da Presidência jurava a pés juntos que o governo tudo faz para se dar bem, muito bem mesmo, com o Presidente da República, o jornal Público trazia até nós o sentimento das mulheres e dos homens que se sentam no Conselho de Ministros e que estavam - passo a citar - "fartos dos ralhetes de Marcelo". Segundo aqueles relatos, com o governo não há problema nenhum, volto a citar, há "um espírito genuinamente muito bom".
Nova citação: elas e eles estavam "todos com bom ânimo nas reuniões e nas iniciativas".
Aquelas senhoras e aqueles senhores que rumaram a Braga para ver o Santo António, cito agora a conclusão dos relatos dos peregrinos, "vibraram e celebraram a iniciativa demonstrada pelo primeiro-ministro ao fazer frente ao Presidente da República", fim de citação.
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As pérolas que se encontraram espalhadas pelos participantes daquele Conselho de Ministros eram tantas que dava para fazer um colar de três voltas para oferecer ao líder. Ouçam mais esta: "ficaram todos muito contentes e aliviados [...] com a força da convicção" que lhes permitiu "sentirem liderança". Aquelas ministras e ministros que falaram ao Público, confessaram igualmente que andavam "acabrunhados com a asfixia mediática e as repetidas deslealdades do Presidente da República". Pelo que a atitude de António Costa lhes "deu ânimo" e "aumentou a coesão".
Até aqui estive a rir-me, mas dá vontade de chorar quando se pensa que o destino do país, em áreas onde o papel do Estado é crucial, pode estar entregue a pessoas que, não tendo um pingo de vergonha, também não têm revelado um mínimo de competência. Os bons ministros e ministras que também existem neste governo não mereciam ter de participar em reuniões onde se sentam os autores destas pérolas. Talvez não fosse má ideia começarem a dizer o que pensam ao primeiro-ministro António Costa. Talvez não fosse má ideia participarem nos Conselhos de Ministros com espirito critico.
Não consigo sequer imaginar como é que estes ministros e ministras, com tantos encómios ao chefe, escutaram ontem o violentíssimo discurso do Presidente dirigido a um governo que, nas palavras de Marcelo, não assumindo responsabilidades no caso Galamba não é portador de confiança, credibilidade, respeitabilidade e autoridade.
Acontece com bastante frequência, no dia a seguir à festa, chega a ressaca.