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A conferência de líderes parlamentares adotou, por unanimidade, uma recomendação para que no debate político os intervenientes não se acusem uns aos outros de autistas. Esta notícia, escrita por João Pedro Henriques, no Diário de Notícias, em Abril de 2009, talvez interesse à deputada social-democrata Patrícia Dantas* que ontem, para acusar os socialistas de teimosia, acusou-os de serem autistas em vez de lhes chamar teimosos, arrogantes, outra coisa qualquer que não de autismo político que é coisa que não existe e revela profundo desrespeito pelas pessoas que sofrem de Perturbação do Espetro do Autismo.
A recomendação que tem quase 15 anos surgiu na sequência de protestos de associações de familiares de vítima da doença, que não gostam de a ver usada como fonte de insulto ou crítica política. Foi um deputado do PSD de então, de seu nome Luís Carloto Marques, que levou o assunto à conferencia de líderes, depois de um deputado da sua bancada ter acusado "o governo de ter feito "ouvidos de mercador", com a arrogância e o autismo habituais".
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Década e meia depois é preciso lembrar de novo aos deputados da República que não é aceitável utilizarem nomes de doenças para criticarem ou insultarem adversários. Conheço crianças autistas, com dificuldades na comunicação e interação social ou comportamentos repetitivos, que transportam consigo uma bondade sem limites. Por certo, todos nós temos muito que aprender com elas.
Patrícia Dantas, ao comparar os deputados do PS a um autista, pensando que dessa forma estaria a fazer uma crítica profunda, estava de facto a comparar quem tomou a decisão de reaprovar o pacote Mais Habitação a pessoas que a história haverá de recordar como tendo sido capazes de contribuir para um mundo melhor. Elon Musk, Anthony Hopkins, Greta Thunberg são pessoas com Perturbação do Espetro do Autismo que, por certo, não ficam nada a perder na comparação nem com Patrícia Dantas, nem com nenhum outro deputado que insista em utilizar esta e outras doenças para se afirmarem no combate político.
* Esta crónica foi corrigida no nome da deputada do PSD que considerou "autismo" a opção política do PS. Pelo erro, fica o meu pedido de desculpa à deputada Márcia Passos.