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Daniel Oliveira considera que "é cada vez mais evidente que foi prematuro o passo dado pelo Ministério Público" na operação Influencer. É provável que "tenha avançado com o que tem de mais sólido. E o que tem de mais sólido, parece bastante gasoso", ironiza.
"Em vez de se investigar em crimes para chegar aos culpados, investigam pessoas para ver se se encontram crimes", acusa o jornalista no seu espaço de opinião semanal na antena da TSF. "É com estas investigações por arrastão que se constroem processos gigantescos que raramente chegam a qualquer condenação."
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No caso da operação Influencer, o Ministério Público não se limitou a fazer cair o Governo, antes "abalou, por envolver um primeiro-ministro em exercício com base em suspeitas muito vagas, todo o regime", aponta o comentador.
Daniel Oliveira expõe um exemplo muito concreto: "Durante as buscas à casa do ministro Duarte Cordeiro - que não é arguido ou suspeito de qualquer coisa com pés e cabeça - a sua mulher teve de levar os filhos menores à escola. Para garantir que não havia contactos, foi acompanhada ela e as crianças por um polícia dentro da viatura. A responsabilidade não terá sido daqueles polícias e procuradores, mas de um mandato abusivo tendo em conta o que estava em causa."
Face a este cenário, o jornalista deixa a questão: "Que pai está disposto a manter-se na atividade política depois disto?"
Juntando a este caso Ao do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, preso preventivamente durante seis dias e depois libertado pelo juiz sem qualquer acusação, repete-se a pergunta:
"Que profissional competente e honesto está disponível para ser quotidianamente tratado como um criminoso? Quem quererá ver a sua vida destruída em vez de tratar da sua vida? Quem aceitará, para gáudio dos corruptos, ser sistematicamente confundido com eles? Quem quererá fazer política se a única forma de não ser suspeito é nada fazer?"
Daniel Oliveira arrisca uma resposta: Sobrarão apenas "aldrabões e incompetentes" na política, porque "só esses estão dispostos a tudo".
É a consequência direta, diz o comentador, de "uma aliança entre setores justicialistas do Ministério Público, um jornalismo cada vez mais tabloide e políticos populistas que, apesar dos telhados de cristal, contam com a falta de exigência do voto que captam, um voto que lhes permite tudo o que acha imperdoável nos outros porque só pretende abanar o sistema. Até só sobrar o pior do sistema."
"Não são os políticos que pagarão o suicídio populista e justiceiro da nossa democracia. Seremos nós", alerta.
Texto: Carolina Rico