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Na sexta-feira passada aguardei com grande expectativa e emoção o anúncio do Prémio Nobel para a Paz.
A escolha, tal como a do ano passado - dois jornalistas, nomeadamente, Maria Ressa das Filipinas e Dmitry Muratov da Rússia - foi na mouche: o bielorusso Ales Bialiatski (actualmente preso), a Associação Memorial da Rússia e a ucraniana Centro para as Liberdades Cívicas. Três laureados extraordinários e que bem merecem este Prémio. Tal como os dois laureados com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu em 2020 e 2021, nomeadamente, a Oposição Democrática bielorrussa e o russo Alexei Navalny. O anúncio relativo a 2022 será também neste mês de Outubro.
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Mas, enquanto pensava neste Prémio Nobel fui olhando para o mundo e dei por mim a regressar ao Irão e aos protestos dos jovens e, em particular, das suas mulheres, que foram aliás o tema desta Opinião há duas semanas.
A actualização online feita no sábado pelo reputado Institute for the Study of War chama a atenção para um aspecto importante da resposta de Teerão.
Nas suas palavras: "A desinformação do regime relativa à brutalidade exercida sobre os manifestantes está cada vez mais desligada da realidade e mais conducente a instigar a fúria dos manifestantes do que a os acalmar."
O melhor (na verdade, o pior) exemplo é o veredicto oficial sobre a morte de Mahsa Amini, que ocorreu a 16 de Setembro e foi o rastilho para os protestos. Segundo as autoridades e via a Al-Jazeera: "Mahsa morreu não devido à brutalidade policial, mas sim devido a uma doença pré-existente. (...) Mais ainda, foram negadas notícias de que as forças de segurança tivessem assassinado uma adolescente que protestava contra a morte de Amini. (...) Sarina Esmailzadeh de 16 anos (..) ter-se-á suicidado."
Quando leio estas versões oficiais aquilo que sinto, bem ... não posso mesmo reproduzir de forma pública. Tal é o disparate, tal é a desfaçatez, tal é a provocação.
Os iranianos continuam nas ruas há cerca de três semanas. Da nossa parte, temos de manter viva a sua luta e não deixar que saiam dos holofotes mediáticos.