
"Esta é apenas mais uma tragédia do tempo que ficará nas marcas que outros verão." Daniel Oliveira lembra a importância da Catedral de Notre-Dame e "as cicatrizes das tragédias e das glórias que testemunhou".
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Daniel Oliveira descreve a catedral de Notre-Dame como "uma testemunha de uma História de mais de 850 anos" que conserva "as cicatrizes das tragédias e das glórias que testemunhou".
No espaço de comentário semanal na TSF, "A Opinião", o jornalista faz uma viagem pela História da catedral: "Nascida como afirmação de poder, foi palco de opressão e de revolta. Ali foram julgados e queimados vivos os templários, ali foram coroados Henrique VI de Inglaterra e Napoleão Bonaparte. Foi saqueada na Revolução Francesa, quase incendiada durante a Comuna de Paris. Ali foi beatificada Joana D'Arc. Ali tocaram os sinos pela morte dos cartoonistas de Charlie Hebdo. Foi sendo parcialmente destruída e parcialmente refeita conforme o estilo de cada época."
O cronista lembra que a catedral "esteve para ser demolida, por ser de mau gosto", sendo hoje visitada "por 13 milhões de turistas por ano".
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"Este é o momento em que todos falamos, sentindo o que dizemos, de uma perda irreparável. Talvez seja demasiado cedo para o distanciamento, mas a História é feita de uma sucessão de perdas irreparáveis que se reparam. Não vou fazer qualquer metáfora: quase milenar, Notre-Dame tem demasiada História para representar apenas uma coisa", continua Daniel Oliveira.
Para Daniel Oliveira, "o incêndio de ontem que dói como uma ferida que deixará para sempre a sua cicatriz" e "também não é metáfora de coisa alguma: nem da decadência, nem da incúria. É apenas mais uma tragédia que deixará mais uma marca que, depois da reconstrução, ficará como testemunho perpétuo por mais mil anos de vida."
Notre-Dame não acabou, "está lá, assim como por aqui continua, com todas as suas dores e tragédias, com todas as suas libertações e revoltas".
O jornalista lembra Vítor Hugo na obra que se tornou popular pela paixão do Corcunda Quasimodo pela cigana Esmeralda: "Talvez o tempo tenha acrescentado mais à igreja do que o subtraído, pois espalhou sobre a fachada a sombria cor dos séculos que faz da velhice dos monumentos a idade da sua beleza."
Daniel Oliveira remata: "Esta é apenas mais uma tragédia do tempo que ficará nas marcas que outros verão. Choramos, reconstruimos, recordamos. Disse que não ia recorrer a metáforas, mas afinal não consigo. Assim é a nossa Europa, assim é o mundo todo."
Texto: Sara Beatriz Monteiro