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Os Verdes alemães, embora atenazados por problemas de consciência - por exemplo: e os imigrantes? - estão a levar cada vez mais a sério a possibilidade de imitarem os seus colegas austríaco e se coligarem com os conservadores nas próximas eleições gerais para governarem juntos o país. Ainda por cima, a estrutura federal deste deu-lhes direito a experiência útil: no Land de Bade-Wurtemberg tal coligação já existe e está a correr bem.
Faz todo o sentido. A leitora lembra-se da Guerra Fria ? Os russos, grandes jogadores de xadrez, perceberam a certa altura que a partida estava perdida, mandaram o marxismo leninismo às ortigas e se não conseguiram construir um capitalismo decente passadas duas décadas sobre o trabalho pioneiro magistral de Yegor Gaidar, primeiro primeiro-ministro de Yeltsin - o último foi Putin, mas enquanto a missão de Yegor era salvar a Rússia da decadência, a missão de Vladimir era salvar os herdeiros de Yeltsin da cadeia - foi porque os russos têm mais gosto pela vodka do que pelo trabalho e a Rússia continua a merecer a caricatura que dela fazia Helmut Schmidt quando era chanceler da República Federal Alemã e chamava à URSS "Alto Volta com bombas atómicas". A URSS passou outra vez a Rússia - como De Gaulle sempre lhe chamara - e perdura, danada, apenas nas memórias de antigos dissidentes soviéticos que veem na União Europeia réplica ocidental dos desmandos e dos perigos dela. Até Alto Volta mudou o nome para Burkina Fasso (privilégio - ou maldição - de nacionalismos modernos e post-coloniais, incapaz de ser entendido por quem não esteja metido nessas camisas de onze varas).
Quem não parece ainda ter percebido bem as coisas são sociais-democratas europeus ocidentais: alemães, cada vez mais longe de serem alternativa natural ao poder conservador; suecos, pior ainda, cada vez mais longe do mito de serem eles o poder natural; franceses, cada vez menos entre os poucos que lá escaparam ao fascínio jacobino do tio José da Geórgia, antes e depois da glória, morte e renegação póstuma deste. Ficam os espanhóis e os nossos, convencidos dos seus valores - talvez por a direita, na Península Ibérica, ser mais ignorante ainda do que é costume noutros lugares.
Não perceberam que quando o comunismo foi ao ar em Moscovo (e no Comecon e no Pacto de Varsóvia), a social-democracia, sua versão lite, foi ao ar também. Não consegue meter medo aos ricos e está teórica e empiricamente demonstrado que a luta de classes não dá para entender a sociedade.
Além disso, apareceu entretanto isto do clima e essa é a guerra que dará sentido a todas as outras e alinhará as forças políticas. A curto prazo vai contra interesses de estados, de companhias, de pessoas e atrai tarados como a pequena sueca. É sempre assim. Pessoas sensatas adaptam-se ao ambiente; só insensatos procuram adaptar o ambiente a si. É por isso, lembrou Bernard Shaw, que todo o progresso é feito por malucos (All progress is made by fools, no original).