A opinião de Fernando Ribeiro na TSF.
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Estará para breve uma nova edição de um dicionário da Língua Portuguesa que pretende, acima de tudo, modificar o olhar com que observamos certas classes profissionais e a nossa vida social em geral. Para já, estão garantidas novas e actualizadas entradas, graças a contribuições de várias figuras que têm encaminhado a nossa sociedade até ao aqui e ao agora que se vive. Este dicionário pretende, acima de tudo, sinalizar o momento especial que se vive neste Portugal de Fevereiro de 2019.
Nomes como o do Juiz Neto de Moura, Dom Manuel Clemente, a Dr.ª Marta Temido, Ministra da Saúde, o Dr.º Tiago Brandão Rodrigues, Educação, a deputada Mariana Mortágua e o ex-dono disto tudo Ricardo Salgado, entre outros, foram já confirmados e terão à sua responsabilidade as novas entradas sobre, respectivamente, vitimas, agressor e violência doméstica; pedofilia (e a partir de quantas vitimas ela começa mesmo a contar); enfermeiros e professores; classe média (que fará das suas ultimas aparições num dicionário em Portugal) e, finalmente, responsabilidade civil e criminal.
Tivemos acesso a alguns dos apontamentos para este novo dicionário e não querendo estragar a surpresa, gostaríamos de revelar, em exclusivo, algumas das diferenças mais visíveis. Por exemplo, podemos estar descansados porque nunca mais ninguém verá os enfermeiros ou enfermeiras como aquelas pessoas mais valentes e mais dedicadas aos outros do que nós. Não nos vamos lembrar que limpam o cú aos doentes, administram a medicação, passam o bisturi ao médico, fazem as vigílias e o trabalho, que com todo o respeito, outros não fazem. Aplicam as algálias, fazem os clisteres, rapam púbis, dão banhos e por isto tem uma interação humana com os pacientes como nenhum outro elemento da cadeia médica. São também psicólogos amadores, mantêm o ânimo apesar do cheiro a morte e controlam as visitas indesejadas, como policias dos seus doentes. Isso pertence ao passado, a outras edições.
Quanto aos Professores, fica arrumada em definitivo a ideia de que podemos aprender algo com eles que não as artimanhas sindicalistas da classe. Será passada a salvífica borracha pela noção de que o professor é uma figura central do nosso crescimento e que luta sempre pelos seus objectivos, mesmo que o roubem, o deslocalizem, o maltratem, lhe batam, lhe façam riscos no carro. Será, aliás, esta classe a escolhida para destaque numa nova adenda que denunciará más práticas sociais como as greves , realçando o papel honesto e de cumpridor regulador do parceiro Estado, mesmo que este último nunca faça o que ficou na Lei, por todos acordada.
Para não fazer muito mais spoiler, a deputada Mariana Mortágua chamou a si a definição da palavra rico (alguém que ganhe 1500€ mensais) e afinou a da classe média à medida do RSI, que, em breve, substituirá os salários dos trabalhadores e os "lucros" das empresas. Ricardo Salgado será um dos nomes que contribuirá para a nova perceção de homem de sucesso dando ainda uma perninha nas entradas das palavras impune e intocável.
Razões mais que diversas para estarmos atentos a esta nova edição. Irá também se confirmar um prefácio pela sempre recta pena do Prof. Aníbal Cavaco Silva. A edição, essa, está quase garantida pela Porto Editora, com o alto patrocínio da Opinião Publica. Conterá ainda o poema das camélias do Dr. Oliveira Salazar para que nunca se esqueça o contributo do nosso "querido" ditador enquanto criador de palavras em Português que continuam a pesar tanto na nossa memória colectiva. Palavras como PIDE, censura, espancamento, torção testicular, privação do sono, Tarrafal, Forte de Peniche, ultramar e tantas outras que merecerão em breve uma nova leitura acrítica da parte do jornalista Vítor Bandarra, que também foi convidado à última hora enquanto entusiasta especialista desta personagem incontornável. Como aliás se pode verificar pelas suas últimas reportagens em horário nobre na TVI, que em boa hora vieram humanizar um homem incompreendido pelas famílias dos milhares que mandou matar, enquanto cortejava aristocratas no recato de uma Santa Comba Dão que nunca esquecerá o Senhor Doutor.
*o autor deste texto escreve ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico