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As próximas eleições para o Parlamento Europeu, de 6 a 9 de junho de 2024, podem mudar a correlação de forças, mas dificilmente determinarão a queda do Governo, considera Daniel Oliveira.
No seu espaço de opinião na antena da TSF, o comentador nota que as europeias obrigam cada partido a uma estratégia diferente: "Bloco e PCP querem recuperar o voto perdido nas últimas legislativas"; BE e IL "dependem dos candidatos que escolherem" e Nuno Melo devia "apostar" em "Cecília Meireles para um bom resultado que lhe permitisse nas legislativas um acordo com o PSD e um regresso à Assembleia da República", considera. Já o Chega "tentará confirmar-se como terceira força para manter o apoio da extrema-direita Europeia e condicionar o ciclo político até às legislativas".
"São o PSD e o PS que contam mais nesta história", nota Daniel Oliveira.
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No caso dos sociais-democratas, as europeias representam mesmo uma "prova de vida" para Luís Montenegro: "O objetivo não é só vencer as europeias (...) é vencê-las de tal forma que as pessoas acreditem que pode governar sem o Chega."
Por seu lado, "o PS será vítima natural do cansaço e dependerá de uma parte que não controla: a guerra, a inflação e as taxas de juro, e de uma acumulação de problemas estruturais - de que têm uma boa dose de responsabilidade - que não se revertem num ano: o envelhecimento da classe docente, a atratividade das carreiras no SNS, a ausência de uma política pública de habitação, a fuga de jovens qualificados de um modelo económico assente nos salários baixos e na precariedade que o turismo reforçará e de um Estado que paga mal".
No entanto, Daniel Oliveira considera que "a ideia de que uma derrota do PS nas europeias pode levar a uma dissolução do Parlamento não faz sentido", uma vez que "nunca os resultados das europeias determinaram a queda de um governo".
"Na realidade, até foi o oposto", reforça: "Em 2014, com Passos Coelho no poder, o PS venceu as eleições europeias. Não só legislatura não foi interrompida, como foi o líder socialista, António José Seguro, que se demitiu porque a vitória foi 'poucochinha'"
"Em 2009, o PSD venceu por uma margem de cinco pontos percentuais o PS, quando reinava o governo de Sócrates. No mesmo ano, Sócrates volta a vencer as eleições legislativas, e apesar de ter perdido a maioria absoluta, isso não resultou da interrupção da legislatura."
"Tirando a queda de Seguro, as europeias nunca terminaram ciclos políticos", conclui o jornalista. "Não vale a pena tentar fazer delas o que elas nunca foram."
É possível que haja uma diferença significativa esta legislatura, ressalva Daniel Oliveira: "Nunca tinha acontecido um Presidente da República entreter-se a especular sobre a discussão sem ter uma crise política nas mãos e lidando com um primeiro-ministro com uma legitimidade política imaculada".
"Marcelo perdeu esse jogo e ficou encalhado em Galamba. Desde então, mudou de estratégia e transformou cada lei num braço de ferro com o Governo ao ponto de ameaçar vetar a regulamentação de uma lei que vetou. É por saber que não pode usar a bomba atómica que se tem concentrado na artilharia convencional", defende o comentador.
Para Daniel Oliveira, num "cenário que é previsível", as europeias "podem mudar a correlação de forças e, com isso, ajudar a apodrecer uma maioria já bastante madura", mas tudo, até ao momento, indica que "dificilmente determinarão a queda do Governo".
"Com a direita à espera que Passos Coelho regresse numa noite de nevoeiro para a liderança do PSD e até, quem sabe, para primeiro-ministro, mais facilmente determinariam a queda de Luís Montenegro", aponta. "E foi isso mesmo que o aposentado de luxo Durão Barroso veio dizer ao líder social-democrata", quando pediu ao PSD para dar "prioridade imediata" às europeias, conclui.
Texto: Carolina Rico