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O Presidente do Brasil, Lula da Silva, esteve na China estes dias.
Para fazer face aos desafios económicos do seu país, foi procurar investimento. Marcou, ainda, presença noutro evento singular: a tomada de posse de Dilma Rousseff como Presidente do Banco de Desenvolvimento dos BRICS.
Os BRICS são um conjunto de economias e países em desenvolvimento que se uniram de há uns anos a esta parte e que reúnem regularmente. O acrónimo BRICS foi cunhado por um economista e designa os países que compõem este grupo, mais um a juntar a outros grupos, formais ou informais de Estados com desígnios comuns. São eles o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul.
Para contestar as obrigações e regras ditadas pelo FMI e pelo Banco Mundial, decidiram criar há alguns anos duas instituições para competir com estas: um Banco de Desenvolvimento e um acordo de reserva financeira, para ajudar os seus membros aquando de dificuldades financeiras.
Dilma Rousseff na sua tomada de posse disse que o Banco a que iria presidir iria conceder crédito sem condicionantes políticas, contrastando assim com o FMI e o Banco Mundial que usam as suas condicionantes políticas para impor visões que não são globais e que podem ser injustas e persecutórias. Até aqui tudo bem.
No entanto, a criação deste Banco teve na sua génese o desenvolvimento sustentável e o combate às alterações climáticas. Dilma Rousseff incluiu isto mesmo no seu discurso de tomada de posse e este princípio trata-se também de uma condicionante política e, a meu ver, bem-vinda.
O que me preocupa é outra coisa: os direitos humanos são política e lei universal. A paz tem de ser política universal. O respeito pela democracia ganharia mais força se fosse condição para ter acesso a dinheiro e a financiamento.
Sem valores, sem política, este banco corre o risco de ir pelo mesmo caminho do FMI, do Banco Mundial ou de outras instituições internacionais da ONU ou não, que ficam à mercê do dinheiro e do interesse do dinheiro; em vez do interesse dos povos e das Nações que estes líderes representam.
A guerra, o abuso de direitos humanos, as economias extrativistas e poluidoras são motivadas pela busca do dinheiro. A Paz mundial e o desenvolvimento integral do planeta, com destaque aqui para o mundo do hemisfério sul, sempre foram atropelados pelo dinheiro.
Nestes BRICS estão a China, a Rússia e a Índia. Países onde a Democracia é uma estranha que não é vista há muito tempo. A China e a Rússia são campeãs nos abusos de direitos humanos e de poluição industrial (para alimentar o consumismo europeu e ocidental, diga-se). A Rússia tem estado em sucessivas guerras e a China ameaça mais do que nunca a paz mundial com a questão de Taiwan.
Ao ouvir Dilma Rousseff falar, ficou-me esta preocupação. Os povos, a economia, a política, o bem comum e o desenvolvimento sempre estiveram ao serviço do dinheiro e dos seus interesses.
E o caminho tem de ser ao contrário.
Precisamos que algum ou alguma líder o refira também nos seus discursos.
