Daniel Oliveira critica as decisões do juiz Neto de Moura e a forma como as suas palavras podem "custar vidas".
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No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, "A Opinião", Daniel Oliveira não passou ao lado do caso do juiz Neto de Moura, que tem merecido a atenção do país.
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O comentador acredita que o juiz quer recuperar o "bom nome que tinha quando os vizinhos o tratavam por Sr. Dr. Juiz com reverência", mas quer fazê-lo numa sala de tribunal "onde acha que o conquistou, por sentença lavrada por um colega, processando metade do país que o criticou".
"Neto de Moura acredita que a independência da justiça o salva do mundo e a beca o livra da crítica, só que os juiz, sendo independentes e responsáveis, não vivem em Marte", referiu Daniel de Oliveira, frisando que "a justiça também está sobre escrutínio livre e democrático e não depende da concordância da maioria, mas tem contas a prestar ao povo".
O jornalista acredita que "se tivéssemos alguma dúvida quanto à desadequação [dos acórdãos], a um tempo em que a infidelidade da mulher vale o mesmo que a do homem e não atenua qualquer ato criminoso, a reação à crítica pública apenas o confirma". Assim, Neto de Moura "buscará agora, numa passagem da bíblia ou num artigo do código penal de 1886 alguma coisa que lhe dê o poder de calar a indignação geral".
Com recurso ao perfil de Neto de Moura escrito por Miguel Carvalho, na Visão, Daniel Oliveira garante que nada o faz pensar que o juiz "odeia mulheres" ou que seja um "desvairado conservador", contudo é um juiz que "não percebe que os seus acórdãos não são apenas um jogo abstrato de palavras e argumentos, são sobre vidas concretas e trágicas de pessoas doridas e passam mensagens para agressores que sentem que o ciúme lhes alivia a consciência ou vítimas que desistem de recorrer à justiça".
"Ao contrário das palavras de quem o critica, as de Neto de Moura podem custar vidas", ressalvou, reiterando que "não há tribunal que devolva o nome de Joaquim Neto de Moura como estava antes de ter entrado na máquina trituradora das polémicas mediáticas".
Daniel Oliveira admite que detesta "linchamentos" e refere até ser "sensível à ansiedade de um homem que todas as manhãs lê o seu nome nos jornais, que sabe que será sempre pronunciado como símbolo de uma sociedade violenta e machista", considerando tratar-se de uma "condenação para a vida".
Porém, acredita que há pesos diferentes nas palavras. "Quando escrevo não esqueço que por detrás de um nome há uma vida, foi isso que Neto de Moura se esqueceu em circunstâncias bem mais graves, que por detrás daquelas vítimas estão mulheres que têm de viver com as suas sentenças, com o terror quotidiano e com as suas palavras que o desculpam e diminuem. A elas ninguém devolveu a paz e a liberdade", concluiu.
Texto: Inês André de Figueiredo