A culpa é do PSD - e nenhuma explicação parece ser boa para a quebra de um acordo destes. Mas o pior é o que este caso pode significar sobre o que esperar da política. Ainda bem que vêm as férias.
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- 105 votos, foi o que Correia de Campos conseguiu ter. 105 votos é exatamente a soma do número de deputados do PS e do Bloco. Ok, admito que nem todos os deputados do Bloco tenham votado em Correia de Campos. Mas mesmo que tirem 10 dos 19 deputados do Bloco, isso significa que apenas 10 dos 89 deputados do PSD votaram nele.
- Ora, alguma coisa se passou no PSD. Se a direção do partido assumiu um compromisso de apoiar a eleição de Correia de Campos, uma de duas: ou o líder parlamentar não teve a autoridade de impor a escolha (o que é mau); ou simplesmente não quis que o nome passasse (o que equivale a um problema de palavra). Chegados aqui, podem dizer-me: foi só desleixo. Ok, mas é muito mau. E deixa consequências.
- Mas o caso Correia de Campos é mais extenso. Mostra que o PCP ficou mesmo zangado com o PS por não ter sido tido nem achado na escolha de nomes, p.e., para o Tribunal Constitucional - e que se perdeu um elo de confiança que era central na 'geringonça'. E que não vai facilitar pelo menos neste ponto: não é por acaso que Arménio Carlos diz, na primeira oportunidade, que não pode haver uma segunda oportunidade para o ex-ministro. Não respeitar isto, para o PS e António Costa, será criar um problema ainda maior.
- Veremos, nos próximos tempos, se outras consequências virão. Mas estas já são difíceis de ultrapassar: o PSD mostra-se desorientado; o PS tem um problema com o PCP (e a sua relação com o Bloco); e a Concertação - e o Provedor de Justiça, que estava prometido ao PSD e agora não sabemos) vão ficar mais um bom tempo pendurados. Numa altura em que a concertação seria muito importante para a recuperação da economia.
P.S. Depois de escrever estas linhas, percebi que o Presidente Marcelo tinha chamado os partidos e os parceiros para, na próxima semana, discutirem a situação política. Marcelo está a ver bem: os sinais de desconfiança do PCP face ao PS, a impossibilidade de negociação entre PS e PSD, a exigência do próximo Orçamento com ameaça de sanções e os problemas que só crescem na banca (vejam o filme desta semana com a CGD e Novo Banco) dão razões de sobra de preocupação. Se a isto juntarmos os relatos de pessimismo de António Costa aos deputados do PS e ao aviso de Passos ao PSD de que uma crise chegará "muito, muito antes" das autárquicas, então temos um cenário realmente preocupante para setembro.
Bom, bom, é que vêm aí as férias. O melhor era os dirigentes dos partidos aproveitarem bem. A ver se o filme muda quando voltarem.