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Um incêndio em Sintra, no passado domingo, deixou a região de Lisboa coberta de fumo. A capital sentiu o que muitas zonas do país "vivem recorrentemente de forma até mais dramática", destaca Daniel Oliveira.
No seu espaço de comentário habitual na TSF, o jornalista chama a atenção para as temperaturas extremas e "incêndios cada vez mais perigosos e assustadores".
E no aeroporto de Lisboa, também no domingo (como em todos os dias nas últimas semanas), reinou "o caos", com dezenas de voos cancelados e adiados e passageiros retidos, "desesperados".
A razão? "Durante a pandemia, as companhias despediram depressa para reduzir os prejuízos e agora não conseguem e contratar depressa para responder às necessidades", considera Daniel Oliveira. "Como tantas outras coisas nesta economia disfuncional, tudo é mais rápido para salvar as empresas do que para salvar os clientes."
"Companhias que receberam apoios do Estado para não morrerem, não trataram de garantir condições para a retoma. E ninguém parece querer cobra-lhes esse dever."
O comentador lembra que as fragilidades do aeroporto de Lisboa são conhecidas há décadas e que a discussão sobre a localização o novo aeroporto dura há 50 anos.
Tudo isto está ligado. "Há, nesta coincidência de desgraças, o cheiro desagradável do fim dos tempos."
Mas não é, realmente, uma coincidência, aponta. A pandemia espalhou-se rapidamente e resolveu-se rapidamente, como tudo muda rapidamente, consequência do "excesso que é a marca deste século, que pressiona um planeta que não aguenta oito mil milhões de pessoas que comem, poluem, produzem, viajam".
"O caos meteorológico ainda agora começou", alerta Daniel Oliveira. No futuro, "o planeta será cada vez mais hostil". O "stress ambiental" e "ansiedade do fim dos tempos", vivida especialmente pelos jovens, são perfeitamente justificados.
O país tem de se preparar para enfrentar incêndios todos os anos e responsabilizar a classe política. O comentador critica a elevada dependência de bombeiros voluntários, a estrutura "confusa e burocrática", as leis de limpeza de matas quando "ninguém com idade para as limpar vive onde têm de ser limpas", a falta de uma política económica e publica para o território.
A resposta para esta "sensação de fim do mundo", "não está no moralismo generalizado". Todos querem viajar, e todos devem ter o direito de o fazer - "problemas globais e estruturais não dependem de escolhas individuais (...) dependem da forma como produzimos, como distribuímos o que produzimos, como trabalhamos, como organizamos as nossas cidades, como nos movimentamos".
Regressar ao passado não é possível, é preciso uma "revolução para o futuro", que passa por "regular a globalização e a economia", defende Daniel Oliveira.
Texto: Carolina Rico