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Num mês com um número invulgar de clássicos, vem aí mais um. Embora o dérbi de Alvalade se realize num contexto muito próprio que vai para lá da imprevisibilidade que um Sporting - Benfica sempre tem.
Desta vez, o foco das interrogações está no visitante. O Benfica atravessa um período que se arrasta já há largas semanas em que as exibições e a produção de jogo (nem sempre uma coisa é o mesmo que a outra) se situam abaixo daquilo que se esperava e que, convenhamos, seria de exigir face ao investimento feito para esta época.
Tirando o último desafio no Dragão, onde demonstrou que pode ser muito mais do que se tem visto, o Benfica tem dececionado várias vezes, mesmo nalguns encontros em que ganha, acabando num sofrimento desnecessário.
Depois, a Covid-19 atacou em força no Seixal. Jogadores, equipa técnica e o próprio Jorge Jesus. Ele que tem passado as últimas semanas a inventar - no sentido literal do termo - onzes com os jogadores disponíveis. E o técnico já percebeu que até pode constituir uma boa equipa, mas que as coisas se complicam quando não tem alternativas no banco.
O atraso para o Sporting, neste momento, passou a ser motivo de preocupação, de tal forma que as águias sabem que, se o jogo lhes correr mal, o fosso para o primeiro pode tornar-se intransponível.
Portanto, este é um desafio marcante para o Benfica. Não necessariamente em relação ao campeonato, mas sim a oportunidade para operar a tal reviravolta emocional de que, percebe-se, anda desesperadamente à procura. Se sim, logo se verá se consegue consolidá-la. Se não, é muito provável que o percurso permaneça na linha do que tem sido.
Já a situação do Sporting é diametralmente oposta. Não apenas porque é líder, mas também porque o tempo vai passando e, à beira do fecho da primeira volta, continua a sua caminhada afirmativa. Ora, com seis pontos de avanço sobre o rival, isto torna a partida de Alvalade num jogo mais do que relevante caso consiga vencer.
Não seria ainda um xeque-mate aos encarnados, mas provocaria um enorme empurrão. É que, independentemente da questão do título, aumentar o avanço sobre o Benfica pode ser fulcral na corrida a um outro objetivo: a entrada direta na Liga dos Campeões. Quanto mais longe um concorrente estiver, maior a possibilidade leonina de ocupar uma das duas vagas de acesso imediato.
Descontando quaisquer imponderáveis ditados pela pandemia (nos dias em que vivemos ninguém pode ter certezas absolutas), Ruben Amorim deverá contar com os seus principais trunfos, à exceção, em princípio, de Palhinha, alvo de uma real bizarria no Bessa.
Olhando para o cenário global, o Sporting, se for capaz de responder às exigências, dispõe neste dérbi de uma oportunidade de ouro para concluir esta fase apertada do calendário. Resta saber se a sabe aproveitar. Repare-se que o único verdadeiro dano registado neste período foi o afastamento da Taça de Portugal.
O que significa que, desde a conquista da Taça da Liga, os leões puderam regressar ao andamento anterior, ou seja, foco exclusivo no campeonato, com tudo o que isto traz de tempo e espaço para recuperar e treinar. Algo que os concorrentes diretos não vão ter tão depressa.
Por todas as razões enunciadas, o clássico coloca as partidas de FC Porto e Braga em segundo plano. Simplesmente, não são secundárias quando olhamos para a corrida pelo título e pela entrada no "comboio Champions".
Tanto o FC Porto - Rio Ave como o Moreirense - Braga continuam a exigir a dragões e minhotos o seu máximo e, com ou sem um dérbi nesta ronda, a apontarem aos três pontos. Mas como sucede sempre que dois candidatos se defrontam - como em Alvalade - os outros dois interessados só têm a capitalizar caso triunfem. Não tenho dúvidas de que neste campeonato insólito (quase poderia dizer único) iremos assistir ainda a vários desfechos improváveis e a mutações classificativas incomuns. Daí que não falhar a cada semana pode ser determinante.
PS: Agora, não sobre o futebol português, mas sobre um português no futebol. Abel Ferreira, com o Palmeiras, pode repetir o feito de Jorge Jesus na Libertadores. Oxalá o consiga, mas conquiste ou não o título sul-americano, já entrou nos melhores registos do futebol brasileiro.