A vitória pouco convincente deixou Fernando Santos à beira de um ataque de nervos. O selecionador tem agora duas questões fundamentais para resolver.
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A PALAVRA. Penso que devem ter reparado na quantidade de vezes que o selecionador e os jogadores de Portugal usaram a palavra "confiança" depois da partida com Marrocos. Sobretudo, a propósito da ausência dela. Até Fernando Santos falou da falta de confiança em ter bola.
Parece um contrassenso estarmos com este nível de preocupação após o primeiro triunfo no Mundial, mas aquela segunda parte frente aos africanos implica que os alarmes toquem. Antes agora que mais tarde. Estamos naquela fase em que não há erro possível, porque a qualificação está próxima mas não garantida. E estes são os momentos mais arriscados.
O selecionador tem duas questões fundamentais para resolver. Para começar, adquirir um equilíbrio no meio campo que se eclipsou na voragem do desafio de Moscovo. Portugal foi campeão europeu sem jogar bonito mas também sem se desequilibrar ; desta feita, jogou mesmo feio e foi "engolido" pela pressão marroquina.
Depois, há o visível sub-rendimento de alguns jogadores. E aqui, ao contrário do que implicaria a tentação imediata de mudar uns quantos, talvez seja preferível perceber antes se está tudo certo nos lugares certos. Portugal tem uma ideia de jogo - goste-se ou não dela - e o mais elementar bom senso aconselha a que não a desbarate.
O DISCURSO. Lembram-se, certamente, do que disse Fernando Santos quando, em pleno Euro 2016, começávamos a torcer o nariz aos resultados da seleção. Fez declarações afirmativas, confiantes, determinadas. E tinha razão. Agora, pelo contrário, quando até lideramos o grupo, lança alertas sérios para dentro.
Se dúvidas houvesse, é muito evidente que o contexto de um Mundial nada tem a ver com o de um Europeu.
VITAIS. Cristiano Ronaldo, o melhor marcador de sempre nas seleções europeias, voltou a ser a solução. Permitam-me, contudo, estender a "solução" a Rui Patrício. O capitão assegurou a vantagem, o guarda-redes garantiu-a.
INCONSTÂNCIAS. Sem querer relativizar a débil prestação portuguesa em Moscovo, penso que vale a pena olhar para aquilo que as seleções apontadas como mais fortes não têm conseguido fazer.
Tirando a exceção da Bélgica (não deu hipóteses ao frágil Panamá), todos os restantes potenciais candidatos a atingir os quartos-de-final viveram arranques problemáticos nas partidas perante adversários normalmente catalogados de gama média ou média-baixa.
Alemanha, Brasil e Argentina não ganharam. E mesmo os que venceram - França, Inglaterra, Portugal e Espanha - demonstraram notórias dificuldades.
Claro que qualquer um deles tem condições para chegar lá, mas nota-se que algo vai mudando no quadro geral. Sobretudo do lado dos "outros". Daí que o Irão - com legítimas aspirações ao apuramento para os oitavos - deva ser encarado como um obstáculo de calibre elevado. Olhá-lo de outro modo pode ser um exercício perigoso.