"A Opinião" de Pedro Pita Barros, na Manhã TSF.
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A utilização de dias de comemoração tornou-se comum, e o 19 de maio é o dia mundial do médico de família. É curioso que exista este dia. Que seja necessário relembrar, ou celebrar, a importância do médico de família.
Portugal tem uma rede de médicos de família no Serviço Nacional de Saúde que é um dos seus principais pontos fortes, mesmo que muitas vezes não se dê conta disso. A existência de médicos de família um pouco por todo o lado é uma das características dos melhores sistemas de saúde.
Numa imagem que me parece feliz, a atividade do médico de família foi descrita como sendo semelhante a uma maratona, como uma "corrida" longa do médico de família ao lado de cada um de nós. Uma corrida onde muitas vezes tem que contrariar as nossas vontades e desejos (para bem da nossa saúde, mesmo que nos custe).
É também uma especialidade médica que é muitas vezes vista como menos interessante. A atividade de atender as nossas tosses, febres e constipações não tem o mesmo reconhecimento público que uma grande cirurgia, por exemplo. A atenção dada à sofisticação tecnológica para resolver problemas de saúde que são problemas imediatos, como se fossem corridas de velocidade, acaba por ofuscar os resultados da "maratona" do médico de família.
Se é fácil ver o resultado imediato de muitas horas numa cirurgia complicada, é difícil ver o resultado de muitos anos do trabalho do médico de família que evita a necessidade da operação feita pelo grande cirurgião.
Uma promessa que todos os ministros da saúde repetem é a de atribuir um médico de família a todos os residentes em Portugal. Para que cada um seja acompanhado de forma permanente na sua vida. E sendo verdade que os vários governos e governantes têm contribuído para que se avance, e tem-se melhorado sempre, devemos perguntar porque alcançar esse objetivo é tão difícil, e não acontece tão rapidamente como os sucessivos anúncios pretendem.
Parte da resposta está na dinâmica de entradas e saídas, como as reformas, dos médicos de família. Outra parte está em conseguir criar as condições para que os médicos formados queiram ocupar as posições disponíveis.
Há uma componente remuneratória, que tem sido melhorada, incluindo acréscimos de salário para quem for exercer em locais mais remotos.
Mas é igualmente preciso mais condições noutras dimensões - ter processos pelos quais os médicos de família possam sentir que têm possibilidades de desenvolvimento profissional. Não será difícil de o fazer numa evolução em que cada vez mais o médico de família tem que funcionar como elemento de ligação do cidadão com outros médicos especialistas, e até com profissionais de saúde que não médicos. E aqui há ainda muito que pode ser feito, na organização do sistema de saúde.
Mas outra parte ainda da resposta está nosso cargo, cidadãos com médico de família atribuído ou não. Da próxima vez que estiver com um médico de família, sobretudo se for o seu médico de família, veja-o como um parceiro que está ali para partilhar consigo um caminho, e não como uma "ida rápida ao supermercado de saúde". Aprecie o seu parceiro desta "maratona".