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Neste espaço de Opinião tenho procurado trazer a política internacional e, em especial, os desafios à democracia liberal por esse mundo fora.
Como bem sabemos, infelizmente, a fotografia mundial não é todo brilhante. Os alertas têm sido muitos e expressões como «democracias iliberais» entraram na nossa linguagem e a sua práctica tem encontrado entusiastas no continente europeu.
Umas vezes de forma declarada, frontal e identitária, outras vezes de modo mais dissimulado e bem disfarçado. É esta segunda «categoria» que é a mais perigosa e que exige um entendimento da democracia liberal que seja activo, quotidiano e exigente. Não há ilusão maior do que pensar que podemos colocar a nossa democracia liberal numa espécie de piloto automático ou em modo de controlo de velocidade e que esta continuará sempre que quisermos regressar aos comandos democrática e liberal.
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É aqui que a minha análise de política internacional se funde hoje com a nacional. Por outras palavras: os contextos internacional e europeu são cruciais para analisarmos o que se passa actualmente no PSD e no CDS. Não tenhamos ilusões sobre o que está em jogo quando as actuais lideranças dos dois partidos não querem ir a votos internamente.
Para mim, enquanto professora e enquanto cidadã, mantenho o que já escrevi: «Não tenho dúvidas que o combate dos nossos dias é o da defesa da democracia liberal face aos iliberalismos, «zonas cinzentas» e ditaduras dentro e fora de casa, dentro e fora da Europa.»
Nos últimos dias temos assistido a um frenesim de ataques, declarações e de adjectivos sem controlo. Do muito do que tenho conversado e do que fui ouvindo, lendo e vendo há uma imagem e uma expressão que retive e que traduzem bem as actuais lideranças dos dois partidos: a imagem do «Calimero», a vítima do destino, pobre coitado que se queixa de tudo e de todos, e a expressão «chico-esperto». As duas são muito úteis para percebermos como os actuais líderes do PSD e CDS entendem este momento político.
É um espectáculo penoso, este de termos à frente do PSD e do CDS dois líderes para quem a democracia e a cultural liberal, respeitadora e pluralista, é um obstáculo (estou a ser suave) à (e lá vem aquela palavra do costume) ... suspiro muito longo ... «estabilidade». Pois claro à «estabilidade» de quem está agarrado ao trono. Mais ainda quando o líder da oposição (pelo menos no papel) Rui Rio considera normal incluir extremistas numa solução (eu diria problema) de governo.
A principal consequência de tudo isto? A degradação das nossas instituições e, em especial, das políticas.
Timothy Snyder, um dos grandes estudiosos da democracia liberal (e da sua fragilidade), no seu livro (um daqueles pequenos grandes livros) intitulado «Sobre a Tirania, Vinte Lições do Século XX» deixa vários alertas e, em paralelo, como não baixar os braços. Gostaria de destacar uma: a segunda e o seu apelo a que se «defenda as instituições». Porquê? «porque são estas que nos ajudam a preservar a decência».