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A caminho de mais um 1º de maio, o futuro do trabalho encontra-se cheio de incógnitas e paradoxos.
Por um lado, somos 8 mil milhões de pessoas no mundo e com a sensação de que o planeta não consegue alimentar as necessidades, nem acomodar os desejos de consumo de tantas pessoas. Esse consumo desenfreado de recursos ao planeta, tem sido um dos motores da poluição, do excesso de emissões de carbono e das alterações climáticas que já colocam e colocarão ainda mais em risco as nossas vidas.
Por outro lado, a Economia foi feita de modo a funcionar apenas em dinâmica de crescimento, e ela só cresce com mais e mais consumo, com mais e mais extração de recursos. O modelo só funciona com crescimento sem fim.
A sustentabilidade do Estado Social e da Segurança Social, assentam no mesmo princípio de crescimento: precisam que muitas pessoas sejam trabalhadoras para que dos seus salários se descontem impostos e esse dinheiro servir para, entre outras coisas, sustentar o Estado.
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Apesar das 8 mil milhões de pessoas que o planeta não aguenta, ouvimos dizer que há falta de mão de obra. Não há quem trabalhe. É preciso mais gente. Mas há quem não queira cá imigrantes.
Por outro lado, num futuro de trabalho cada vez mais automatizado e onde força de trabalho humana vai sendo substituída em muitas áreas, por máquinas e pela inteligência artificial, os empregos diminuirão. A afamada sustentabilidade do Estado Social e da segurança social estarão por isso ainda mais em risco.
Como o trabalho será mais concentrado, assim a produção de riqueza também. Os muito ricos serão cada vez menos e muito mais ricos. Os pobres serão cada vez mais e muito mais pobres.
A taxa de natalidade é também baixa em Portugal e diz-se que tem de ser maior, que tem de haver incentivos para que nasçam mais pessoas. O futuro tem de ser garantido com os seus descontos. Tem de haver gente para trabalhar!
Recentemente foram tomadas algumas medidas para ajudar os jovens pais: creches gratuitas para todos. Mas depois verifica-se que é só para alguns. Mais tarde verifica-se que nem sequer há creches suficientes, nem a pagar, muito menos gratuitas.
Do mesmo modo, as licenças de parentalidade em Portugal, contam-se em meses e semanas e percentagens de salários. Alguns dias para a mãe, outros para o pai, poucos dias em conjunto.
Países como a Roménia, a Letónia ou a Lituânia dão mais de um ano de licença parental, permitindo que os pais, em vez de procurarem desesperadamente creches onde depositem os seus bebés de poucos meses a chorar enquanto têm de ir trabalhar, estejam de facto a tempo inteiro com os seus filhos no primeiro e segundo anos de vida.
Que mundo é este que separa um bebé dos seus pais nos primeiros meses de vida? Que mundo é este que nos obriga a correr desenfreadamente e em nome de um crescimento e de uma pressa sem fim? É este o sentido da vida?
Há muitos dilemas, paradoxos e encruzilhadas a que o ser humano e a civilização terão de dar resposta num futuro breve. O caminho que estamos a percorrer não está a fazer muito sentido.
