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Não raras vezes, tentando convencer que detêm o conhecimento total sobre a existência e as vivências dos seus educandos, alguns pais e encarregados de educação garantem a pés juntos: "O meu filho conta-me tudo!
Acreditam (?) assim, deitando mão a uma argumentação a carecer de melhor qualidade, estar a defender os interesses da criança ou do jovem, procurando anular factos ou relatos que lhes são transmitidos, evocando uma omnisciência, que lhes permite ser fiéis depositários de uma verdade absoluta e inabalável, porém, amiúde, ilusória.
Frequentemente, na presença dos seus educandos, alguns pais e encarregados de educação proferem afirmações em que a estupefação causada é tanto maior, quanto menor é a sua veracidade ou coerência. "O meu filho não mente!", "somos os/as melhores amigos/as", "sou seu/sua confidente" são justificações que pretendem direcionar a razão para quem orgulhosa ou insensatamente as expressam. Se é certo que alguns são motivados por uma ligação umbilical superprotetora, outros desejam, a todo o custo, inocentar os discentes de um comportamento menos adequado.
Caros pais e educadores, os vossos filhos merecem bem mais e melhor.
Por um lado, preocupa-me que se esteja a criar pequenos inadaptados, condicionados pela redoma em que os colocam e, por outro, pequenos tiranos, pela permissividade dada e a ausência de empatia praticada.
Os pais e encarregados de educação são modelos para os mais jovens e não é com comportamentos extremados ou com construtos idílicos que demonstram o seu amor ou as suas competências parentais.
Considero que problema principal não tem a ver com as "brincadeiras" ou a "diabruras" da petizada, desculpáveis até certa medida, tendo em conta a idade, o contexto, os estados de espírito do momento, porque fazem parte do crescimento, podendo ser oportunidades privilegiadas para se trabalhar os valores, atitudes e competências emocionais e sociais, mas, antes, com a desconfiança de alguns pais e encarregados de educação na instituição Escola, servida por excelentes profissionais, que se posicionam como coadjuvantes e não antagonistas. Quebrar com o vínculo entre Escola e Família não abona em proveito de um desenvolvimento integral dos alunos, podendo comprometer competências e capacidades vitais.
Pais que diabolizam a Escola, obcecados pelos seus filhos, ou acobertando-os por atos menos próprios, são os mais propensos a práticas dispensáveis e que põe em causa a autoridade, as regras, os princípios e os códigos de conduta, contribuindo para uma crescente ausência de valores na sociedade atual.
Devemos estar atentos ao aumento exponencial deste fenómeno preocupante, e que pode ferir a relação de parceria sucesso entre as duas instituições.
Os alunos importam para as escolas, sendo aí que realizam e desenvolvem a autonomia, os saberes e os conhecimentos para a vida, num percurso conduzido com mestria e profissionalismo de um corpo docente e técnico, com reconhecimento generalizado, ao que deve corresponder uma colaboração de excelência por parte dos pais e encarregados de educação, potenciadora de sinergias propícias à criação de um ambiente salutar de aprendizagem.
É, igualmente, justo reconhecer a existência de verdadeiros heróis nas nossas escolas, alunos cujos progenitores ou familiares não são exemplo, e, apesar disso (e não é pouco), têm um desempenho notável tanto ao nível académico como social, sendo referência para a comunidade educativa.
É obrigação de todos ajudar a corrigir os pequenos Pinóquios, sem esquecer de elevar a atitude dos valentes que, contrariando o que o destino lhes poderia reservar, encontram na Escola o elevador social favorável para encarar o futuro com a esperança merecida.