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Joe Biden fez ontem o discurso da sua vida e apelou como seria de esperar à união de todos. A cerimónia, apesar do aparato de segurança e os limites impostos pela pandemia, foi solene, serena e inspiradora. Do ponto de vista protocolar, a Administração cessante esteve representada pelo Vice-Presidente Mike Pence e a cerimónia contou com a presença dos anteriores Presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama. Jimmy Carter com 96 anos foi saudado e assim esteve, de certa forma, presente. Mas, a menção do dia vai claramente para a poetisa Amanda Gorman. Do alto dos seus 22 anos declamou apaixonadamente um poema sobre o que significa ser cidadão dos EUA, que me deixou arrepiada.
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O cerne do seu discurso foi, sem dúvida, a necessidade de os norte-americanos olharem para os seus concidadãos como «vizinhos e não adversários». Biden reiterou a necessidade de «baixar a voz e a temperatura política» e que, se assim não for, «não há nação, só um estado de caos». Foi bom voltarmos a ouvir um Presidente dos EUA «rejeitar os factos manipulados» e «as mentiras contadas para ter poder e para com elas lucrar». Mais ainda, ouvimos uma condenação da «fraude eleitoral» e da insurreição do dia 6 de Janeiro e que, no fim de contas, a «causa da Democracia prevaleceu».
Em termos de referências, quero destacar a importância de Abraham Lincoln e da sua Proclamação de Emancipação. Biden salientou o modo como o Presidente Lincoln «sentiu» este documento crucial «com toda a sua alma». Do ponto de vista internacional, o 46º Presidente dos EUA falou da vontade de «consertar as alianças» e que os EUA «voltarão a estar presentes uma vez mais no mundo». No entanto, «para ir ao encontro dos desafios do presente e do futuro». Esta é uma referência importante, pois revela que há plena consciência que esta Administração não pretende regressar a 2016. Em quatro anos o mundo não esteve quieto e por isso há que olhar para o futuro e pensar de forma estratégica.
Por último, um discurso que foi optimista, mas também realista. Biden sabe bem que é crucial fazer face às «crises em cascata», que neste momento assolam os norte-americanos. Há uma pandemia para combater, uma economia para relançar e uma prova de fogo em matéria de unidade nacional. Um país dividido entre «habitantes rurais e urbanos, conservadores e liberais, encarnados e azuis». E tendo em conta as várias urgências a Administração Biden lançou logo as mãos à obra a todo o vapor com uma série de ordens executivas de cariz interno e externo. Este é nas suas palavras um «Inverno de perigo».
*A autora não segue as normas do novo acordo ortográfico