Corpo do artigo
Conto-vos hoje a história de um pai.
Do pai do Luís - chamemos-lhe assim. O Luís tem 14 anos, vive em Portugal e dado o preço das rendas, a sua família partilha o pequeno apartamento com outra família.
Deslocados, é a vivência da religião que lhes dá uma comunidade. O Luís vai à escola como qualquer jovem da sua idade. É homossexual - percebeu-o no seu caminho de descoberta pessoal - e por isso é gozado e sofre de bullying.
Ele e outros colegas, juntaram-se num projeto de arte e participação de jovens e encontraram aí espaço seguro e de não julgamento para formarem equipa e organizarem a primeira marcha LGBTI+ da escola e do bairro.
A alegria de finalmente poderem ser quem são, engrandeceu o entusiasmo com que trabalharam juntos dezenas de jovens heterossexuais, homossexuais, bissexuais, rapazes, raparigas e não-binários. Fossem quem fossem, sentissem o que sentissem, ali, eram seres humanos iguais em dignidade e respeito mútuo, como o mundo todo devia ser.
A mãe do Luís ama-o muito, mas o meio em que vive pressiona-a sem ela sequer se aperceber disso. O conservadorismo da sua congregação religiosa é forte. Ela só quer o melhor para o filho e tem medo do futuro que não o aceita. Nessa ansiedade desesperada, tirou o telemóvel ao Luís, ameaçou-o, proibiu-o de participar na preparação e na marcha. Não o queria naquele ambiente onde o Luís era respeitado como era, ela que o amava como ele era.
Católico me confesso e no fenómeno religioso vejo muitas manifestações da diversidade da sociedade. Falando apenas do cristianismo, receio dizer que hoje parecem só faltar as correntes conservadoras perceberem o evidente: somos todos iguais, filhos amados e ninguém deve ser discriminado em função do género, da orientação sexual, da idade, da etnia ou origem.
Se as Igrejas, católica ou evangélicas, abraçassem esta ideia definitivamente, tanto jovens como o Luís e tantas mães e pais como os do Luís deixariam de sofrer e causar sofrimento.
No dia da marcha juntaram-se muitos jovens. Mas faltava o Luís e é mesmo por causa dos que não podem marchar que temos ainda de o fazer.
Com a equipa incompleta, o evento ia começar. Eis então que chega um carro. Era o pai do Luís. Naquela tarde de sábado, saiu das atividades da igreja e veio trazer o filho. Sem chegar a sair do carro, encostou, deixou-o sair e saudou os colegas. Seguiu de novo para a igreja, junto da esposa e comunidade.
O Luís participou na sua marcha de coragem. O pai corajoso também, desafiou os costumes que o rodeiam porque ama o seu filho como ele é.
Oxalá um dia o pai do Luís, a mãe e toda a comunidade que lhes dá fé, possam também marchar com o Luís, nesta marcha de amor e acolhimento que é a vida, por todos aqueles que ainda não podem marchar o orgulho que sentem, pelo que sentem.
