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Passava da meia-noite, depois de sete horas de audição parlamentar com a CEO da TAP, quando o deputado socialista Carlos Pereira se viu rodeado de perguntas dos jornalistas. Durante a audição cheia de revelações, ficou a saber-se que em janeiro, na véspera da primeira ida de Christine Ourmières-Widener ao Parlamento devido à polémica com a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis, a gestora esteve reunida com um grupo de deputados do PS e membros dos gabinetes dos ministérios das Infraestruturas e dos Assuntos Parlamentares.
Quem convocou a reunião? Depois de tentativas evasivas de fugir ao que diz ser um "fait divers", Carlos Pereira remeteu para a sua secretária, virou costas e deixou as perguntas sem resposta.
Já se esperava que a Comissão Parlamentar de inquérito sobre a TAP, na qual vão ser inquiridas cerca de 60 testemunhas, fosse uma dor de cabeça para o Governo. E a longa audição da ainda CEO, cheia de evidentes ressentimentos com a demissão por justa causa, foi certeira a atingir governantes e ex-governantes, a responsabilizar o administrador financeiro preservado até agora pelo Governo, a semear dúvidas e a perceção de que no caso haverá muita gente a mentir ou a dizer meias-verdades.
Por muito que ainda haja a esclarecer sobre a reunião de janeiro, duas conclusões resultam óbvias. Uma, é a de que o dossiê preocupa suficientemente o PS para promover uma reunião capaz de preparar a esperada tempestade em sede de comissão parlamentar. Outra, é que o partido continua a demonstrar dificuldades em traçar linhas de separação entre poderes, levando ao absurdo o suporte ao Governo no órgão que deveria fiscalizá-lo.
A oposição já pede a cabeça de João Galamba, o ministro de quem dizem ter partido a iniciativa da reunião, à luz da informação surgida no Parlamento. E, ou esta versão é um equívoco e o ministro das Infraestruturas desconhecia a reunião, ou tem de facto muito a explicar ao país.
Certo é que o que se sabe até agora desta comissão parlamentar, e o que se vai saber, é que tudo o que foi feito e o que será em diante tem como missão principal segurar o ministro das Finanças. O tal que não pode cair.
No meio disto, só faltava mesmo envolver o presidente da República numa alegada alteração de um voo da TAP de Moçambique. Um pesadelo.