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Na minha cidade, de Aveiro, começou por estes dias a feira do livro. Também por estes dias começou a feira do livro de Lisboa, numa escala bastante maior e em finais de agosto será a vez da feira do livro do Porto.
São poucos os sítios que reúnam tanta serenidade, paz e alegria como uma feira do livro, uma livraria, uma biblioteca. Recordo-me de há uns anos estar na livraria Ateneo, em Buenos Aires, uma antiga sala de espetáculos parecida com o coliseu do Porto e o coliseu dos recreios, convertida em livraria. O espanto e o encantamento duram sempre todo o tempo em que percorro estantes de livros sem fim. A sensação é igual em bibliotecas, naquelas que podemos percorrer as estantes e os livros sem gaiolas.
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Ir à feira do livro, é fazer uma visita que pode dar em possibilidades indefiníveis.
Nada como um livro tem o poder de nos inspirar, renovar, fazer perceber outros horizontes e ter uma ideia de que um outro mundo é possível.
Por esse mundo fora, infelizmente, há livros censurados, queimados, proibidos.
Mais recentemente, houve livros adulterados, numa censura de linguagem que lhes retira expressões que hoje entendemos como ofensivas.
Além de ser um ataque à literatura, este adulterar das obras é um atentado à inteligência dos leitores.
A leitura é uma viagem que se faz a pensar. Não é sonâmbula como o scroll das redes sociais.
É uma leitura crítica, que concorda e discorda. Que relaciona e constrói mais além.
Mascarar as feridas e as cicatrizes da História e da Literatura, daquilo que foram os conflitos, a injustiça e a discriminação, é fazer-nos correr o risco de não aprendermos com os erros do passado e assim mais facilmente virmos a cair neles de novo. Esse não deve ser o papel da censura - linha ténue na atual cultura de cancelamento - mas o papel da Educação.
Com mais investimento em gerar pensamento crítico, haveria mais compreensão do que é o lugar da História e o que deveria ser o nosso lugar de hoje.
Um lugar que precisa reconhecer que os livros são portais importantes para refletirmos sobre o nosso mundo, o do passado e o do futuro. Sem censura. Com Liberdade de Expressão, em compromisso com os Direitos Humanos. E com acessibilidade: aos livros e à educação que os permite compreender.
