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Com a temporada encerrada, entramos agora na fase das (re)arrumações dos plantéis - com particular destaque, como é hábito, para os três grandes - de forma a que a próxima época possa ser encarada com outro espírito por parte de quem viu fugir-lhe os objetivos e também por parte de quem quer conservar o que de bom lhe aconteceu. Agora que a questão dos treinadores parece ultrapassada, falta o resto. Só que, entretanto, atravessa-se o Europeu pelo qual esperamos há um ano.
Sim, talvez seja um pouco cedo para projetarmos o Campeonato da Europa, mas o facto é que a máquina já está em andamento. É certo que estamos à espera da final inglesa do Dragão, que até pode dar um fecho em grande da Liga dos Campeões, assim estejam os artistas para aí virados. E também vamos assistindo ao afundanço de um Rio Ave que esteve muito perto de eliminar o Milan no início da época e que, agora, está com pé e meio na II Liga.
Simplesmente, a seleção concentrou-se para esta primeira fase da preparação e é natural que se comece a olhar para o assunto de outra forma.
Este modelo do Euro-2020, que inclui uma dispersão por várias cidades europeias, foi concebido numa altura em que ninguém sonhava com uma pandemia. Mesmo sendo discutível por várias razões, esta fórmula tornou-se bastante mais complexa de executar com a chegada do novo coronavírus. Nem tanto pelas questões logísticas, como sublinhava o próprio Fernando Santos, mas sobretudo porque a incidência da Covid-19 não é idêntica em todos os países. E sabe-se lá que tipo de complicações ainda podem surgir.
De qualquer modo, é o que é. A UEFA quis sustentar as coisas até ao limite, fez alterações pontuais (como a troca de duas cidades), mas o essencial manteve-se. Portanto, é só esperar que tudo decorra dentro dos parâmetros possíveis, o que já nem seria mau. Embora me pareça que é pedir demais a inexistência de sobressaltos...
Depois, há o plano desportivo. Acontece que Portugal, pela primeira vez, surge com uma responsabilidade acrescida: entra em ação
para defender o título. E continuo a pensar que a seleção nacional deve encarar este Europeu na exata medida do que significa defender um estatuto. Quer dizer, não está obrigada a ganhar outra vez, mas deve fazer tudo o que puder para o tentar.
Aliás, convém relembrar que a história dos Campeonatos da Europa já nos ensinou que vitórias consecutivas são a exceção que confirma a regra. Só sucedeu uma vez (com a Espanha), o que, por si só, é elucidativo.
Por outro lado, apesar da enormíssima qualidade dos 26 portugueses, todos temos a consciência de que existem seleções mais fortes que, desta vez, vão bater-se para impedir a repetição de 2016, quando foram apanhadas de surpresa por um candidato que não era favorito que se transformou num favorito para lá de candidato. De resto, algo que deveriam ter levado em conta por aquilo que outras edições tinham demonstrado, isto é, as "vitórias improváveis" da (então) Checoslováquia, Dinamarca e Grécia. Os tradicionais pretendentes ao título europeu, presume-se, não estarão interessados em repetir o mesmo erro.
Assim sendo, que papel está reservado a Portugal? Para começar, garantir um lugar nos oitavos de final. Pode parecer um pouco a repetição do discurso do "jogo a jogo", mas, com seriedade, não há outra forma de lidar com a equação.
Até porque começamos com um grupo complicadíssimo (para nós e para eles) e todos sabemos que este micro campeonato - são só três jornadas - pode dar para tudo. É preciso não falhar no que é vital (Hungria) e procurar o que é necessário nos duelos de alto calibre (Alemanha e França). E isto não é impossível.
Vamos aguardar pelos dois testes que marcam este pré Euro, pois os desafios com Espanha e Israel, embora não determinem o rumo das coisas, ajudam certamente a clarificar que caminho vai ser seguido. E não me refiro exclusivamente ao onze pelo qual o selecionador optará.
Entretanto, uma outra seleção, a de sub21, joga já a cartada dos quartos-de-final do respetivo Europeu. A Itália apresenta-nos os problemas do costume, mas confesso que gostaria muito de ver esta jovem equipa nacional com o título. Se há conjunto que o merece por tudo o que tem feito é este.