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No seu habitual espaço de opinião na antena da TSF, Daniel Oliveira espera consenso em duas coisas: que o ataque do grupo Hamas não é "um ato de resistência, mas um crime abjeto contra civis" e a retaliação israelita "não é uma reação contra o Hamas, mas sim um crime de guerra".
O comentador nota que quem está fora desta opinião "não deseja uma solução pacífica para o fim da ocupação ilegal dos territórios palestinianos" e o "direito à paz e segurança de israelistas e palestinianos".
Apesar das "sistemasticas violações do Direito Internacional, Israel é um Estado e não se pode comprar moralmente ao Hamas", mas Daniel Oliveira sublinha que a equiparação é inevitável quando um antigo primeiro-ministro explica "que também têm direito ao seu bombardeamento de Dresden".
"Muitos não gostam de equiparação, mas ela baseia-se num impasse. As forças que apoiam Netanyahu e o Hamas partilham a recusa de qualquer solução de dois Estados viaveis. Sem ela, só restam duas possibilidades: a expulsão ou extermínio. É numa delas que cada um trabalha", explica o jornalista.
"Não é por acaso que o Governo israelita e o Hamas colaboraram na destruição de qualquer liderança moderada palestiniana, ou que [Yitzhak] Rabin foi morto por radicais israelitas. Não é por acaso que Netanyahu defendeu, em 2019, que qualquer estratégia para impedir o estabelecimento de um Estado palestiniano passaria por reforçar o Hamas. Não é por acaso que o Hamas escolheu como alvos os kibutz e um festival da paz não colonatos ou acionistas radicais. Ambos os lados apostam na radicalização do outro lado. Nenhum deseja uma paz negociada", defende Daniel Oliveira.
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"O que pode fazer Israel?" é a questão muitos colocam.
Para Daniel Oliveira, Israel pode derrotar o Hamas "o que passará pela punição dos seus cabecilhas", mas sobretudo pela política "contribuindo para devolver a liderança palestiniana aos moderados" e "reabrindo negociações com a autoridade palestiniana para o desmantelamento de todos os colonatos ilegalmente construídos nos territórios ocupados".
"Como disse Ami Ayalon, antigo chefe do Shin Bet, os israelitas terão segurança quando os palestinianos tiverem esperança. Só a esperança pode derrotar o Hamas" diz o comentador, acrecentando que o ponto de partida é "afastar do poder Netanyahu, um corrupto inimigo da democracia, um incompetente responsável pela maior falha de segurança da história recente de Israel e um fanático que se prepara para atirar Israel para uma ratoeira montada pelo Hamas".
"A barbaridade inaudita do Hamas teve um objetivo: que Netanyahu aproveitasse o choque moral dos israelitas e do mundo para entrar em força em Gaza, porque sabia que Netanyahu procuraria a punição coletiva, não olhando a vítimas civis", considera Daniel Oliveira.
"O Hamas foi um instrumento Netanyahu, Netanyahu é um instrumento do Hamas", reitera.
Daniel Oliveira comenta, por outro lado, que o "problema também está na autoridade palestiniana enfraquecida por sucessivas liquidações ou prisões de possíveis lideranças mobilizadoras" e nos "regimes árabes, que substituem a ação política pela retórica inflamada e inconsequente". Para o comentador, o Ocidente também tem culpa por dar "carta branca a Israel para violar de forma continuada o direito Internacional".
"Perante um glamoroso crime de guerra, vários países europeus proibiram manifestações em defesa dos palestinianos que vivem em estado de ocupação. Todos vão dizendo que se espera que Israel venha a cumprir o Direito Internacional, quando o está a violar descaradamente neste momento. Todos eles foram responsáveis pela entrega dos palestinianos à esperança. É dela que o Hamas se alimenta", explica o jornalista.
"Já o objetivo de Netanyahu é o que norteou toda a sua carreira política: pôr fim definitivo à questão palestiniana e a qualquer solução negociada. É por isso que sempre acarinhou o crescimento do Hamas. O Hamas só pode ser enfraquecido se Israel deixar de ser governado pelos seus maiores aliados. Netanyahu nunca quis liquidar o Hamas sempre quis liquidar a Palestina e usa o Hamas para isso mesmo", conclui.
Texto: Maria Ramos Santos