
Cinco economistas americanos ucranianos escreveram esta semana no Público, via Washington Post, um texto em que pedem que parem as fantasias sobre a Ucrânia. Dirigem-se a um Ocidente que imagina que Vladimir Putin acabará por ser deposto, permitindo que a Ucrânia seja salva, sem a NATO precisar de se envolver, garantindo que a Alemanha e a Hungria não tenham de pagar mais pelo gás.
Ontem o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, veio esclarecer que "a Federação Russa está comprometida com o cumprimento das suas obrigações contratuais com outros países, garantindo fornecimentos de energia estáveis". Ou seja, de todas as fantasias que estes economistas denunciaram só a deposição de Putin e a salvação da Ucrânia não se concretizam, já a NATO tem-se limitado a fornecer armas sem se envolver directamente na guerra e o gás russo continua a chegar à Europa.
É claro que a Ucrânia já conseguiu uma coisa muito difícil de conseguir (digo-o com ironia, obviamente) a admiração do mundo livre pela sua capacidade de resistência face a um opressor militarmente poderoso. Não é grande ajuda para os ucranianos, mas permite aos ocidentais continuar a sonhar. É que, falhado o que estes economistas chamam o "first best", dirigimos-nos, naturalmente, para o segundo melhor que é imaginar que a resistência acabará por dar a Putin e à Rússia um atoleiro igual ao do Afeganistão. Só que, dizem-nos estes ucranianos americanos, isso não é justo para os milhões de ucranianos que arriscam a vida para defender a democracia, porque significará que Putin acabará por destruir a Ucrânia.
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Mariupol, a cidade mártir, onde 350 mil pessoas continuam sitiadas, à mercê das bombas lançadas diariamente pelos aviões russos, que já terão matado mais de duas mil pessoas, tanto é símbolo de uma guerra criminosa por parte da Rússia, como do falhanço da Europa que não se mostra capaz de "pensar de modo sério e criativo sobre os segundos melhores resultados", como pedem os economistas que escreveram no Washington Post.
O custo humanitário, que é já demasiado grande, associado à destruição de cidades a fazer lembrar a "blitz" sobre Londres com que Hitler imaginou ser possível vencer o Reino Unido, obriga o Ocidente a empenhar-se mais na procura da paz. Afinal, são os ucranianos que ensinam economia na América que nos estão a chamar a atenção que há custos que são inaceitáveis.