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Numa convenção em que uma historiadora se lambuza com elogios ao ditador Salazar e um economista olha para o Estado Novo como exemplo do sucesso económico e combate ao analfabetismo é capaz de ser abusivo chamar-lhe congresso das direitas. Talvez seja mais apropriado chamar-lhe congresso dos endireitas, indivíduos que se dedicam a tentar consertar com uns jeitinhos e uns esticões coisas que estão quebradas ou encalhadas.
Por ser um congresso marcado pelos endireitas, ninguém se vai lembrar do que disse o líder do CDS ou da Iniciativa Liberal e nem sequer merece manchete a enésima vez que Rui Rio afirmou que o PSD não é um partido de direita, na enésima vez em que aceitou partilhar palco ou estratégia com a extrema-direita do Chega.
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O que fica do congresso das endireitas é também o elefante na sala. Pedro Passos Coelho teve o mérito de não ter apagado apenas o atual líder do PSD, também tornou irrelevantes os outros líderes, tal é a ideia de que só com ele pode haver uma federação de todos os interesses ou não tivesse sido ele o criador do monstro. Mas, quando pensamos nisto, percebemos que a intervenção daquela convenção que vale a pena guardar para memória futura foi a de Miguel Poiares Maduro.
O antigo ministro de Passos Coelho lembrou o óbvio, que muita gente à direita não quer entender, "de pouco serve unir todo o espaço não socialista se as diferenças no seu seio forem tão ou mais graves do que as que [os] separam do outro lado". Os que não se preocupam com isto, os que aceitam que se pode fazer caminho com gente xenófoba e racista são os que não conseguem distinguir "um projecto de poder de um projecto para o país".