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Hoje 25 de junho, tenho notícia de que se completam 55 anos da primeira vez que os Beatles cantaram publicamente a música "All you need is love".
Depois da morte trágica em Setúbal de uma menina de apenas três anos de idade, inocente e cândida, todos temos de nos silenciar em homenagem a esta vida tão breve, precisamente por ter tido tanta falta de amor.
Todos temos de refletir, principalmente as pessoas com responsabilidades públicas, quer de liderança política e governação, quer quem faz leis e políticas públicas, quer quem as aplica na administração pública, central ou local.
Para a menina faltou amor, mas muitas outras coisas também. No terreno percebemos que a realidade das pessoas é dura, espelha problemas sociais e económicos sérios.
Espelha abandono, e em muitos casos um abandono desesperado e cheio de amor por necessidade de trabalhar muitas horas para se conseguir o mínimo para viver.
Espelha uma enorme falta de tempo, logo depois de as curtas licenças parentais acabarem.
Em Portugal, estas estão longe do tempo das licenças parentais de alguns países europeus que chegam a durar mais que um ano.
Espelha também a escassez de oferta de creches que se possam pagar, que tenham horários, regras e acolhimento que respeitem os pais - tão sacrificados por uma pressão tão grande de horários de empregos tão exigentes, cheios de solicitações, com poucas folgas e ordenados em muitos casos que duram menos que o mês.
Espelha a falta de uma rede de apoio comunitária efetiva e próxima.
O país real está a passar dificuldades sérias. A violência doméstica é apenas a face mais visível da miséria humana. É a ponta de um iceberg de problemas de uma sociedade que aguentou uma pandemia e agora o impacto económico de uma guerra e que afundou ainda mais muitas pessoas numa pobreza persistente e de que é impossível sair sem ajuda.
Habitação, rede de creches, alimentação, educação, saúde são serviços e necessidades publicas básicas. Devem ser regulados e incentivados por políticas públicas urgentes.
Infelizmente precisamos de amor, mas também de todas estas coisas e mais uma: tempo para vivermos. Tempo para partilharmos com quem nos ama e a quem amamos.
Tempo que aquela menina já não terá.
