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Já não importa saber se António Mendonça Mendes disse a João Galamba para ele ligar ao SIS dando conta do desvio temporário do computador com documentos classificados. Eles falaram, já sabemos. Falaram do SIS, mas o teor da conversa não é conhecido, porque o secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro não diz o que conversa com os ministros. Estivesse na CPI e era obrigado a responder, fosse ouvido pelo Ministério Público e também tinha de dizer o que disse a Galamba.
E também já não importa saber quem pressionou a partir de cima para que o agente do SIS não regressasse à sede sem o aparelho. A bem ou com as coisas a complicar. A ação do SIS foi ilegal. Ponto final. Parágrafo.
Agora olha-se para os jornais de referência e percebe-se que o PS anda a adubar a narrativa de que o ministro Galamba tem os dias contados. Como sempre foi instrumental, já não é imprescindível. Se atendermos à quase unanimidade dos comentários feitos quando António Costa segurou o seu ministro, afrontado o Presidente da República, poderemos estar perante mais uma jogada do mestre. Não seria surpresa total chegar ao final da Comissão Parlamentar de Inquérito e o destino de Galamba fazer parte das consequências que o primeiro-ministro prometeu tirar da CPI.
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Se acontecer, se Galamba acabar substituído, haverá quem veja neste tiro pela culatra, mais um golpe de génio político. Até pode ser que seja. Dessa forma, Costa pode esvaziar o Conselho de Estado de Julho. E tanto vai esvaziando a concorrência que nem se dá conta de que no vazio se sentem os portugueses.
Olhando para a sondagem do ICS e ISCTE para a SIC e para o Expresso, o que vemos, entre uma grande desilusão pela vida que lhes é dado viver, os portugueses não confiam nos partidos políticos, no governo e no Parlamento. A semana passada, a mesma sondagem dizia que os portugueses não querem que se mexa em nada e querem que se leve a legislatura até ao fim. É preocupante, muito preocupante. Os portugueses acham que a vida é uma trampa, mas não querem fazer nada para que mude. Simplesmente, porque não acreditam que possa mudar.