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Este fim de semana, o vento que assolou a Madeira entrou de rompante na sala onde decorria a abertura das jornadas parlamentares do PS. E levou tudo à frente. Liberto do peso do casaco e da gravata, Costa, o secretário-geral, o líder de um partido com maioria absoluta, já perdeu um ano dessa "estabilidade" enredado, como diz o próprio, "em casos e casinhos", grande parte deles vindos do interior do Governo e do partido. Esse mea culpa Costa não o fez e não o fará. Não coube no discurso do Funchal. Mas o vendaval que atravessou a sala da reunião dos deputados do PS não atingiu apenas a oposição. Também - ou sobretudo - chegou bem fundo ao próprio PS.
Bem sabemos que, tal como dantes, no futebol, se dizia "o que hoje é verdade, amanhã é mentira", a política há muito que imita o pior do futebol. E, portanto, o que hoje está escrito na pedra como verdade absoluta e irrevogável, pode deixar de o ser. A própria palavra "irrevogável" perdeu a sua definitiva definição, quando se tornou o contrário disso. Chegam depois as explicações para o volte face: a conjuntura, o interesse nacional, as circunstâncias, as inevitabilidades.
Mas, a acreditar - a oposição já disse que não acredita - nas palavras de Costa, o furacão de palavras do fim de semana deixou duas certezas: não procura nenhum cargo europeu e, por outro lado, será candidato às próximas legislativas. Até lá, é governar para baixar o défice e a dívida. E os impostos, até 2026.
Costa deixou, mais uma vez, o partido sem palavras. Os potenciais, putativos, eventuais pré-candidatos à sucessão vão ter de esperar. O secretário-geral não vai sair, mesmo que a legislatura vá até ao fim, desejo reconfirmado pelo próprio este fim de semana. E quando a legislatura acabar, Costa está de novo candidato e disponível para voltar a ser julgado pelo povo e pedir meças pelo que fez (e não fez). Neste quadro, as próximas duas eleições internas são de Costa. O PS e os partidos de poder não afastam da liderança quem ganha, quem governa ou quem está em condições de derrotar o PSD. Costa, está.
Embalado pelas sondagens, que lhe voltam a dar a vitória, Costa falou grosso ao partido. Está para ficar, deixem-se de coisas. E, ao mesmo tempo, desfez o tabu que a oposição alimentava para justificar eleições antecipadas. Não, não vai para nenhum cargo europeu. Fica mesmo aqui. Os que diziam que Costa está farto dos portugueses terão de engolir em seco.
Posto tudo em pratos limpos, talvez, em oito anos, Costa nunca tenha sido tão claro e enfático. Fica no partido, fica no Governo, fica no país. Habituem-se.
Claro que os ventos podem mudar. As eleições europeias, daqui a um ano, são o teste pelo qual todos esperam, Presidente da República incluído. E, talvez depois disso, dessas eleições, desse teste, dessa prova que Costa vai ter de passar, alguma coisa possa mudar. Para já, o secretário-geral esvaziou totalmente a luta interna de poder, mandou os candidatos à sucessão para a sala de espera e desafiou a oposição e fazer melhor. Colocou o ónus no PSD. E ficou "livre" para governar. Costa precisa de tempo. Precisa que a economia chegue ao bolso dos eleitores, precisa que o PRR chegue ao país real, precisa que os anúncios de melhores dias se transformem, de facto, em melhores dias. Quando voltar ao continente, Costa terá nova vida, mais um ano de caução e de Governo. Até às europeias.
