Oferta de emprego: partido com vocação de poder procura líder para quatro anos de oposição
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E agora, PSD? José Miguel Júdice tinha avisado, há cerca de dois anos, que a direita só voltaria ao poder lá para 2026, depois de uma década de travessia no deserto. O antigo militante social democrata, fundador da Nova Esperança e, entretanto, desencantado com o partido, agora transformado em comentador e analista da realidade, viu cedo de mais o que outros não quiseram ver, a começar pelo próprio PSD.
No pós-troika, com a manobra de Costa e a geringonça, primeiro a três e, depois, a dois, até se estilhaçar em pedaços e levar à queda do Governo, a esquerda consolidou o poder e fez o seu caminho. «Contas certas», apregoadas ainda por Centeno, cativações para gerir o défice, juros baixos e, agora, por via da pandemia, um PRR que vai dar para tudo.
Do outro lado, e é disso que se trata, o PSD não soube, não pôde ou não quis ser o agregador da direita, a cabeça de uma grande federação de partidos, o motor de uma grande coligação que se apresentasse como verdadeira alternativa de governação. A direita deixou esvair o CDS, deu espaço ao Chega e viu nascer uma força que andava entre o CDS e o PSD e que, agora, ganha território próprio.
Posto isto, o PSD vai, agora, à procura de um líder para quatro anos de oposição à maioria absolutíssima de Costa. Gabo a coragem e a paciência de quem vier a ser o novo detentor do cargo. Ou melhor, do encargo. Quem quer estar quatro anos na oposição? Quem quer ser cilindrado por Costa no Parlamento? (Rio parece que adivinhava, ao acabar com os debates quinzenais) Quem se quer transformar no líder de um partido não de oposição - porque com maiorias absolutas não há oposição - mas apenas e só, de protesto? Quem está disposto para quatro anos de deserto eleitoral, sem eleições à vista, com um partido desmoralizado e derrotado? Quem tem engenho, arte e capacidade para reconstruir o PSD a partir do poder local e, daqui a quatro anos, apresentar-se como alternativa potencialmente vencedora? E, já agora, quem tem influência para federar a direita e apresentar uma frente comum em 2026?
Poucos. Muito poucos.
Os que durante o consulado de Rio se apresentaram sistematicamente como protocandidatos à sucessão, aposto, vão ficar agora sentados no sofá, a assobiar para o lado, à espera que «outro» que não «eu» avance para a batalha. O próximo líder do PSD deverá estar a prazo porque, daqui a dois anos, quando já «só» faltarem outros dois para as legislativas, o lugar volta a ser apetecível, a perspetiva de poder estará bem mais próxima e, nessa altura, não faltarão candidatos cheios de programas, ideias, vontade e energia.
Mas, e agora, PSD?
Que dirão e farão, nos próximos dias, o Luís, o Miguel, o Jorge, e o Paulo, que nos últimos quatro anos estiveram «disponíveis» para substituir Rio? Que passos - ou Passos - darão para se chegarem à frente?
Antes de tudo, bem podem convocar antigos presidente do partido que, ou não foram a eleições ou, pior ainda, aceitaram mandatos «de transição» até chegar «um líder». Podem começar por perguntar como fez Marcelo para aguentar quatro anos com a quase maioria de Guterres; como atravessaram o deserto socrático Marques Mendes e Luís Filipe Menezes; como Ferreira Leite se sacrificou pelo partido quando, como agora, os predestinados não estavam disponíveis; e também podem falar com Santana Lopes, o único que viu uma maioria parlamentar dissolvida e perdeu eleições a seguir;
Há, pelo menos, para o PSD, uma vantagem que sai dos resultados de ontem. Tem tempo. Tem, até, nos tempos que correm, tempo demais. E se, às vezes, em política, seis meses é muito tempo, quatro anos pode parecer uma eternidade. Acontece que 2026 vai chegar. E, até, lá, PSD?
