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Daniel Oliveira alerta os partidos com assento na Assembleia da República de que, se aprovarem agora o Orçamento Suplementar para fazer face à crise provocada pela Covid-19, não poderão depois vir a arrepender-se ou a culpar o Governo pelas consequências desta decisão.
No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, o jornalista começou por lembrar que o Orçamento Suplementar - que vai ficar decidido esta terça-feira em Conselho de Ministros, antes de passar pelo crivo do Parlamento - inclui "medidas de apoio social de emergência, algum investimento para ajudar a animar a economia e uma tentativa de recuperar o efeito da Covid-19 no Serviço Nacional de Saúde".
Medidas essas que, em parte, já foram tomadas e que já custaram ao Estado "13 mil milhões de euros" - "pouco menos do que o que a União Europeia nos vai entregar a fundo perdido nos próximos três anos", lembra Daniel Oliveira, chamando a atenção daqueles que acham que o dinheiro europeu "vai resolver tudo".
"Quando nos preparamos para a maior crise de que há memória, é bom recordar o que aconteceu em 2009", refere o comentador. De acordo com Daniel Oliveira, na altura, Portugal começou por reagir à crise do mesmo modo como se prepara para reagir agora - e "por decisão da Europa", ressalva. "Depois, a União Europeia recuou e veio a austeridade."
"Hoje não falta quem responsabilize as medidas contracíclicas pela bancarrota. Não têm razão. O erro foi mesmo o recuo, como a História veio a provar", defende o comentador.
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Apesar de não acreditar que, desta vez, a União Europeia vá dar um passo atrás - "até porque esta crise atinge grandes economias, como a italiana e a francesa", Daniel Oliveira lembra que ainda não é certo que o Conselho Europeu vá aprovar a proposta elaborada pela Comissão Europeia.
"Por não sabermos muito bem o que aí vem, acho muito importante que, além de os partidos virem a aprovar este orçamento suplementar, tem de haver um consenso em torno destas decisões a curto prazo", diz o jornalista.
"Se as decisões da Europa vierem a mudar, é importante que os partidos que agora aprovem o orçamento não venham a dizer que isto foi um erro ou que o Governo desatou a gastar dinheiro, porque isto é um caminho que pode vir a ter consequências futuras", avisa.
Daniel Oliveira apela a todos os partidos políticos que tenham consciência de que o Orçamento Suplementar que agora será aprovado "não resolve o fundamental" e que a estratégia para que Portugal saia da crise "depende em muito do que vai ser decidido pela União Europeia", mas que, quando se começa um caminho, passa-se a ser responsável por ele.
Texto: Rita Carvalho Pereira