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O valor de 5,9%, conhecido esta semana, respeitante à taxa de abandono precoce da educação e formação em 2021 - percentagem de homens ou mulheres, entre os 18 e os 24 anos, que deixou de estudar sem completar o secundário - deve orgulhar o país tanto como a conquista do bicampeonato europeu da seleção em futsal, salvaguardando, obviamente, as devidas realidades.
Trata-se do principal indicador do desempenho dos sistemas educativos europeus, que deverá ser enaltecido, por ter atingido um nível histórico, encontrando-se em constante decréscimo desde 2006, indiciador do excelente desempenho das escolas.
Por isso, enquanto portugueses, devemos estar orgulhosos desta conquista... coletiva!
No entanto, o excecional resultado onera de responsabilidade o sistema educativo nacional, pela dificuldade que se coloca em melhorar este feito, sendo que um aumento percentual poderá significar um retrocesso na Educação, que se pretende com firmeza contrariar.
Aproveito esta magnífica notícia, devidamente contextualizada, para relembrar o trabalho determinante desenvolvido nas escolas, realçando o período de março de 2020 até aos dias de hoje, sendo certo que a pandemia tem tido repercussões na Educação, seja pelos confinamentos infligidos ou pelos isolamentos recorrentes, que geram instabilidade e apreensão, com reflexos na vida de todos e, inevitavelmente, no dia a dia das escolas.
Todavia, o profissionalismo e a resiliência marcaram, e marcam, o esforço de equipa que conflui nos sucessos alcançados!
Mérito para as comunidades educativas, com os seus professores e diretores a assumirem a linha da frente, mantendo debaixo do seu radar o máximo de alunos possível, por forma a estes permanecerem ligados à escola, pese embora, por vezes, à distância, pois as regras da Direção-Geral da Saúde assim o ditavam; os técnicos especializados assumiram uma função de auxílio e acompanhamento imprescindíveis na dinâmica empreendida; os assistentes técnicos e operacionais realizaram um trabalho de retaguarda de apoio muito relevante; os diferentes parceiros - associações de pais, autarquias, IPSS, comércio local, serviços da saúde, entre outros - desempenharam um excelente papel de interajuda: a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, logo na primeira hora, disponibilizou algum material digital para os lares dos alunos e alocou um estafeta a cada um dos dezoito agrupamentos, que, durante largas semanas, levantava fichas de trabalho nas escolas (previamente remetidas pelos professores e impressas), para as entregar nas casas dos alunos, fazendo, posteriormente, o percurso inverso para que os docentes as corrigissem; os pais e encarregados de educação, globalmente, colaboraram com as escolas em benefício das aprendizagens dos seus educandos; a estabilidade das políticas educativas (flexibilidade curricular, inclusão, escolaridade obrigatória de 12 anos, percursos diferenciadores...) do Ministério da Educação e a relativa autonomia que facultou aos estabelecimentos de ensino, a par do apoio concedido pelas delegações regionais e outros serviços, foram garante de não deixar ninguém de fora, devotados à premissa de chegar a todos.
A próxima equipa governativa terá de investir, substancialmente, mais na Educação. É desaconselhável, em virtude deste excelente resultado, deitarmo-nos à "sombra da bananeira", usufruindo dos lucros obtidos. O trabalho que nos espera continua a ser hercúleo, exige efetiva dedicação e convoca a uma vontade férrea de continuar a trilhar um caminho de sucesso que os resultados nos testes internacionais de educação validam.
As escolas pretendem que as inúmeras mudanças empreendidas no sistema educativo sejam absorvidas por todos, e consolidadas, contribuindo, assim, para a estabilidade e a desburocratização que fazem falta aos seus profissionais. A continuidade do mesmo partido político à frente do governo, desta vez com maioria absoluta, poderá alavancar com as pretensões tão desejadas. Ou não?