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Por várias razões, estamos num período em que Portugal e Espanha surgem lado a lado numa convergência ibérica incomum. Entenda-se, é difícil haver tanto para dizer sobre ambos quando nos reportamos a apenas 48 horas. Um duelo nos sub21, outro entre as seleções principais e ainda uma candidatura conjunta ao Mundial-2030. Para já, a vantagem é nossa. Vamos ver como acaba.
1 - A excelente seleção sub21 está na final do Europeu da categoria. Veremos se à terceira é de vez, depois das tentativas de 1994 (com Luis Figo, Rui Costa, João Pinto, Jorge Costa e por aí fora) e de 2015 (com João Mário, Bernardo Silva, William Carvalho, Raphael Guerreiro e por aí fora) terem falhado a oportunidade de conquistar o único título europeu que nos falta.
Podem dizer que Portugal foi feliz na meia-final com os espanhóis o que, embora seja verdade, também não explica tudo. Aliás, quando Rui Jorge diz que o desfecho "foi injusto para a Espanha e justo para nós" fica mais próximo da realidade. É preciso reconhecer que Portugal justifica esta presença na final, antes do mais, por toda a caminhada que realizou antes e na qual atingiu momentos de brilhantismo.
Agora é necessário ponderar com enorme cuidado várias coisas para o jogo decisivo com a Alemanha. Do duelo com a Itália já tinham ficado alguns avisos - estar a ganhar por 3-1 não pode permitir ao adversário chegar ao empate daquela maneira - e os alertas saem reforçados do embate com a Espanha, equipa que foi globalmente melhor. E notoriamente superior nos 20 minutos iniciais da segunda parte, até Rui Jorge optar por um 4x3x3 e Luis de la Fuente retirar Brahim Diaz, "apenas" o inventor de soluções da equipa espanhola. O autogolo fez o resto.
A questão é que esta equipa nacional, além de qualidade (e permitam-me destacar Vitinha, uma figura de topo deste Europeu), tem coragem e sabe lidar com situações adversas. É também por isto que tem sucesso e o argumento da "estrelinha" não colhe quando olhamos para um percurso de 12 vitórias consecutivas, quase todas de forma categórica.
Portanto, derrotado o campeão em título, vamos crer que o sucessor também é ibérico. Já é tempo e estes rapazes merecem.
2 - Ainda não é a doer, mas o desafio de Madrid que serve de preparação para Portugal e Espanha, antes do Euro, tem uma enorme importância. Claro que o resultado, qualquer que seja, nada tem de determinante, simplesmente nenhuma das duas seleções quer sair do Wanda Metropolitano com a imagem beliscada. Parafraseando Fernando Santos, não gostam de perder nem a feijões.
Este ainda não é o acerto final para o arranque do Europeu, pois não podemos esquecer que Bruno Fernandes só chegou agora e que o trio do Manchester City ainda vem a caminho. Portanto, o onze escolhido para o particular não será certamente aquele que fará a primeira abordagem quando as coisas começarem a contar (frente à Hungria). De resto, só a partida com Israel completará a fase de "ensaios" e, então sim, poderemos tirar conclusões mais próximas de que caminhos irá o selecionador seguir.
Seja como for, quaisquer que sejam as opções podemos estar convictos de que Portugal apresentará uma equipa à altura das exigências. Tendo como natural que Pepe e José Fonte formem a dupla de centrais (Ruben Dias ainda está ausente), dir-se-á que a maior curiosidade reside no meio-campo. João Palhinha e Sérgio Oliveira, aparentemente, serão os maiores candidatos (mais Renato Sanches e João Félix?), mas nada como esperar para ver.
3 - O terceiro ato destes dias ibéricos é fora dos relvados. Vai avançar a candidatura de Portugal e Espanha à organização do Mundial-2030, que marca o centenário da competição, com direito a apresentação formal que inclui chefes de Estado, primeiros-ministros e presidentes federativos. Tudo em grande.
Claro que a concorrência pode ser forte e hipóteses faladas não faltam - nomeadamente, Reino Unido/Irlanda ou Argentina/Chile/Paraguai/Uruguai -, mas é evidente que uma candidatura ibérica será sempre forte.
Agora, espera-se que, do lado português, se tenha pensado maduramente sobre o assunto. Ninguém se esquece do pós-Euro2004 e é natural que tudo o que implique grandes investimentos faça torcer o nariz ao mais pacato dos cidadãos.
Por ora, não adianta fazer muitas considerações, porque é preciso conhecer ao pormenor o caderno de encargos. E, já agora, qual a real "fatia" de jogos que nos cabe, sabendo que aquele Mundial contará com 48 seleções. Bem sei que tudo isto é só para 2030, mas mesmo assim...