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Hoje celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Porquê hoje? Porque foi a 10 de Dezembro de 1948 que foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A liderança deste documento foi de Eleanor Roosevelt e é um dos marcos da História da Humanidade.
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Olhando para o mundo poderíamos dar voz aos uigures que estão em campos de concentração na China, às vítimas de conflitos na Síria ou no Iémen, às vítimas do terror em Cabo Delgado ou à sociedade civil bielorrussa que mantém viva a sua oposição a um regime ditatorial. Mas, hoje quero dar voz a um cidadão ucraniano de seu nome Ihor Homenyuk. Uma das minhas citações preferidas de Eleanor Roosevelt, uma mulher extraordinária que eu muito admiro, vai ao âmago do que está em causa: «Onde começam verdadeiramente os direitos humanos universais? Naqueles lugares pequenos perto de casa - tão perto e tão pequenos que não passíveis de serem assinalados no mapa do mundo. No entanto, é esse o mundo de cada um de nós; o bairro onde vivemos, a escola ou a universidade que frequentamos (...) Sem um activismo cívico preocupado em defender os Direitos Humanos Universais perto de casa, procuraremos em vão pelo seu progresso no mundo.»
Ihor morreu «perto da nossa casa» em Março deste ano.
E se não fossem jornalistas tais como a Valentina Marcelino e a Fernanda Câncio com uma investigação minuciosa muito provavelmente não saberíamos do enorme sofrimento de Ihor e da sua morte chocante e cruel. Confesso que de tudo o que li o que mais me impressionou foi a entrevista à viúva de Ihor. Os detalhes são sórdidos: «Tinham combinado comigo que iam enviar o corpo, e mandaram-me documentos mas não estava lá escrita a causa da morte. Depois disseram que ia ser muito difícil enviar por causa do coronavírus e que eu tinha de dar autorização para cremar senão podia nunca receber o corpo. Então dei autorização». Nas palavras da viúva Oksana sobre Portugal: «Achava que era um dos países do espaço europeu civilizado, onde os direitos das pessoas estão em primeiro lugar. Nunca imaginei que algo assim poderia acontecer aí. Quero agradecer aos jornalistas que estão a tentar descobrir a verdade.»
O que aconteceu no SEF obriga-nos ao dever de investigar não só o caso de Ihor, mas também «a casa» onde a barbárie é possível.
*A autora não segue o acordo ortográfico de 1990