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Que a seleção deixou uma imagem que não encaixa no estatuto de um campeão europeu é uma evidência. Derrotar o frágil Azerbaijão graças a um autogolo não anima ninguém. Mas como se salvaram os dedos (três pontos), esperemos pelo primeiro teste a sério. Belgrado é a questão.
A vida de uma seleção nacional também não está fácil por estes dias. A lógica do calendário não se aplica a esta temporada, porque tudo mudou e, pior ainda, tudo se baralhou. Reparem bem no insólito de começar a qualificação para o Mundial do próximo ano, quando ainda nem sequer se jogou o Europeu do ano passado. Precisamente: o Euro2020 acabou ensanduichado nas decisões para o Qatar.
No entanto, como diria um daqueles analistas de bancada, é a vida. E como é esta a vida com a qual a seleção tem de lidar será importante que perceba (que os protagonistas entendam) que a caminhada é mais complexa e, porventura, mais exigente do que o habitual.
Este cruzamento de múltiplos objetivos tanto pode ser um problema como um enorme desafio só ao alcance dos verdadeiramente capazes. E, convenhamos, Portugal tem jogadores com o talento e classe suficientes para responder ao que for preciso, só falta que se lembrem disso.
Portanto, vamos partir do princípio de que este jogo em Turim foi um daqueles - como sucede de vez em quando à seleção portuguesa - em que a sua dimensão parece diluir-se numa total falta de inspiração. E, de caminho, que sirva de alerta para o próximo duelo crucial com a Sérvia, porque já todos tínhamos entendido que o primeiro lugar no grupo - o único que dá acesso direto ao Mundial - se decidirá entre as duas seleções, relegando o segundo para um play-off. Depois dos sérvios ganharem aos irlandeses está claro o que fica em causa.
Para a partida em Belgrado (que antecede o fecho deste ciclo inicial no Luxemburgo) terá de se optar por um outro tipo de abordagem. Por paradoxal que pareça é uma vantagem o adversário ser um dos tais que quer discutir o jogo, ao contrário dos azeris cuja única preocupação era perder por poucos. Portugal costuma ser mais racional (e concentrado) perante os que pertencem a outro patamar.
Por outro lado, Fernando Santos apresentará certamente um onze com as modificações necessárias a emprestar a criatividade e a lucidez de que a seleção precisa para vencer a Sérvia (Bruno Fernandes e João Félix, por exemplo, talvez passem ao estatuto de prioritários).
Contudo, isto não significa que tenha feito mal ao lançar mais nomes novos (e vão 49 deste que Santos assumiu no comando) no encontro com o Azerbaijão. De resto, continuo convencido de que Nuno Mendes acabará, mais tarde ou mais cedo, como inevitável titular na lateral esquerda, tal como Palhinha pode ser uma alternativa devido às características que o distinguem de outros médios da seleção.
Acontece que agora a questão é outra. Ganhar é mesmo aquilo de que Portugal precisa para assumir a liderança, depois de ter perdido a oportunidade de somar os golos que o deixariam já na frente do grupo. E atenção, porque desta vez a diferença de golos obtida nas diversas partidas pode vir a ser muito mais determinante do que se pensa.
Mas, enquanto a equipa principal, apesar de embrenhada na qualificação para o Mundial, ainda está num quadro de pré-Europeu, os sub21 já lá estão. No Europeu, entenda-se, porque o tal estranho calendário desta temporada tem o Campeonato da Europa mais jovem partido em dois. A fase de grupos já está em andamento, mas os jogos a eliminar (dos quartos de final em diante) só mesmo em maio/junho.
Para aquilo que realmente interessa: Portugal começou bem com um triunfo sobre a Croácia (excelente rasgo de Fábio Vieira), num grupo que conta com outras duas seleções problemáticas, Inglaterra e Suíça, das tais que podem tornar-se traiçoeiras e atrapalhar os planos aos melhores.
Não sei até onde pode chegar este conjunto de jogadores escolhido por Rui Jorge, embora andemos há uma data de anos a suspirar por um título sub21. Face à geração de que o técnico nacional dispõe, há boas razões para continuarmos a suspirar e, já agora, a acreditar.
Repare-se que uma boa parte deste contingente já é constituído por jogadores que atuam regularmente (e até como titulares) em várias equipas de primeira linha, algo que indicia um salto qualitativo indesmentível. E se pensarmos que até poderia integrar nomes como João Félix, Nuno Mendes, Pedro Neto, Gonçalo Inácio e mais uns quantos é fácil de perceber que o futuro dos AA está mais do que acautelado.
Embora, não o neguemos, um título agora daria muito jeito para reforçar a ambição. O caminho não será simples, pois os qualificados do grupo de Portugal vão cruzar-se nos quartos de final com os do grupo onde participam Espanha e Itália. Mas isto não muda a crença, certo?