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«Agora na prisão estamos com tantos outros manifestantes corajosos, que têm menos visibilidade, mas que são essenciais no combate pela democracia e pela liberdade em Hong Kong.» Foram estas algumas das palavras dos três activistas que foram ontem condenados pelo seu papel nas manifestações em Hong Kong: Joshua Wang, Agnes Chow e Ivan Lam. A sua condenação é, sem dúvida, mais uma confirmação do caminho ditatorial seguido por Hong Kong. Na verdade, já não restam dúvidas sobre o alinhamento entre esta antiga colónia britânica e Pequim. O acordo que previa a manutenção das leis britânicas de Hong Kong até 2047 passou para a secção de ficção.
É espantosa a juventude destes militantes pela democracia e pela liberdade. São, de facto, herdeiros legítimos dessa sociedade civil.
Quando olhamos para estes três activistas há dois aspectos que saltam à vista de forma imediata. Em primeiro lugar, a sua idade, pois Joshua tem 24 anos, Agnes tem 23 e Ivan é o mais velho com 26 anos. É espantosa a juventude destes militantes pela democracia e pela liberdade. São, de facto, herdeiros legítimos dessa sociedade civil robusta e assertiva que, passo a passo, tem vindo a ser esvaziada.
Um dos alvos principais de uma ditadura é o ensino da História.
Em segundo lugar, «apesar» da sua jovem idade estamos a falar de activistas com um historial notável. Ficou na retina o papel destes jovens no «Umbrella Movement», em 2014, um momento muito importante de oposição a Beijing e repleto de imagens inesquecíveis. Mas, na verdade, o processo de contestação desta geração começou dois anos antes com a oposição aos manuais escolares. Um dos alvos principais de uma ditadura é o ensino da História. No fundo, a República Popular da China exige o ensino de uma história mais «patriótica» e, é claro, apologética do papel do Partido Comunista e das suas «virtudes».
Só mesmo a pandemia retirou a atenção mediática aos protestos e às imagens de violência policial, que tão bem ilustram o fim gradual de Hong Kong.
No ano passado, o executivo de Hong Kong apresentou uma lei que permitia a extradição em certo tipo de crimes, os quais são evidentemente formulados de forma muito vaga. Foi esta violação clara do que resta em matéria de Direito em Hong Kong que levou às manifestações que se foram prolongando no tempo. Só mesmo a pandemia retirou a atenção mediática aos protestos e às imagens de violência policial, que tão bem ilustram o fim gradual de Hong Kong.
A tenacidade destes jovens é complementada por outros activistas como Jimmy Lai, um empresário (incluindo media) que não pertence aos grupos afectos ao Partido Comunista da China. O septuagenário Jimmy Lai numa entrevista à DW, em meados deste ano e tendo como pando de fundo a Lei de Segurança Nacional, respondeu assim: «Eu vou permanecer em Hong Kong e vou lutar até ao último dia.» Jimmy está detido desde Agosto.
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*A autora não segue as normas do novo acordo ortográfico