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Certos debates (?) da Assembleia da República, subordinados às temáticas da Educação (e não só!), denunciam inabilidades pedagógicas, desconhecimentos impiedosos e imperdoáveis, afirmações que colhem perplexidade, malgrado a experiência de alguns deputados, raras exceções, numa área que é digna de melhores argumentos, apresentando-se a maioria sem conhecimento dos assuntos que aborda com toda a prosápia.
O de 4.ª feira passada não foi exceção!
Com duração de mais de duas horas (2h16min, para ser exato), "todos" usaram da palavra, falando com uma aparente convicção inabalável, socorrendo-se, por vezes, de notícias dos jornais, exibidas como se fossem tratados científicos rigorosos, dando jeito para elaborar uma narrativa plena de advérbios gastos pelo abuso e a redundância (absolutamente, ...mente, ...mente), expressões e palavras impactantes ("patifarias", "bandalheira total do ensino", "hipoteca o futuro das novas gerações", "sistema educativo em degradação"...), esgrimindo argumentos que melhor pudessem sustentar as opiniões pessoais ou partidárias.
Autoproclamando-se amigos da Escola Pública (da qual quase todos lhe apontam defeitos, esquecendo-se de elevar as indesmentíveis qualidades), tecem-lhe "declarações de amor", dizendo que a defendem, porém aplicando-lhe reiteradamente "facadas" lancinantes, alguns querendo-a ferir, outros, talvez, matá-la, num autêntico exercício de hipocrisia política, visível a olho nu, de que nenhuma bancada parlamentar fica incólume (umas mais que outras, para ser justo).
E a montanha pariu (esperar-se-ia mais?!?) um... Plano de Recuperação de Aprendizagens (PRA)!
Entre gestos e atitudes exibidos durante o evento - que, nas escolas, motivariam a aplicação da respetiva medida educativa disciplinar - e a alusão reiterada aos "exames nacionais", às "turmas dinâmicas", ao "elevador social", à "vinculação dinâmica", à "ação social escolar", à "moderninha", à "ética contemporânea", ao "momento político"... concluiu-se, por fim, que o Plano de Recuperação de Aprendizagens deverá ser mantido.
Já antes do final do pretérito ano letivo, tinha chamado publicamente à atenção para a necessidade de se estender o PRA para além do ano letivo 2022/2023, tendo em conta as turmas sem professores em algumas disciplinas, o reajuste do calendário escolar 2021/2022, motivado, entre outros, pelos constrangimentos da COVID-19. Decorridos mais de 6 meses, o "Parlamento aprova o prolongamento do plano recuperação de aprendizagens". Espante-se!!!
Exigem eficácia e eficiência relativamente ao trabalho que diariamente é efetuado nas escolas, que reputo de excelente, permitindo-se, num perverso exemplo de má prática, gastar "uma pipa de massa" em debates minimalistas, que deveriam ser quantificados monetariamente para elucidar que o dinheiro desperdiçado não é só na TAP ou no BES, mas efetivamente também em momentos que deveriam ser solenes e marcantes pela positiva.
Estou ciente que os que amam a Escola Pública estão diariamente nos recintos escolares, com os homens e as mulheres do porvir, e tudo fazem para a honrar e dignificar. Os docentes, os técnicos especializados, os assistentes técnicos e operacionais e todo o pessoal de apoio são de corpo e alma os magníficos da Escola Pública.