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Nas últimas semanas vimos despertar em Portugal, algo a que não estávamos habituados, uma nova e mais radical forma de protesto.
Não estando em causa a legitimidade das causas, com as quais sou totalmente solidário. O que valerá a pena analisar são as formas escolhidas e o seu impacto.
Faz parte da democracia a tolerância às crenças dos outros, às causas dos outros, o direito à manifestação política é inquestionável, mas não pode ser considerado absoluto. Não pode valer tudo.
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O termos a plena convicção de estarmos certos, não nos pode permitir impor aos outros a nossa razão. Quando o fazemos, quando impomos e nos impomos aos outros estamos a desrespeitar a liberdade. A liberdade porque tanto lutámos.
É neste conceito de liberdade e de democracia, que me fazem classificar as formas de protesto utilizadas de ilegítimas, perigosas e contra producentes.
Ora vejamos.
A semana passada vimos numa conferência sobre energia, e obviamente também sobre descarbonização, um grupo de ativistas ambientais lançar ovos recheados de tinta verde sobre o Ministro do Ambiente.
Os ativistas argumentavam que o Ministro não podia estar numa conferência patrocinada pela GALP e a EDP, como se fosse possível caminhar para a descarbonização sem o apoio e o esforço dos maiores players do sector.
No dia seguinte, a mesma associação ambientalista, invadiu um fórum sobre a aviação mundial e pintou as paredes da Fil com tinta vermelha.
Na manifestação pela Habitação do passado sábado, foram destruídas as montras de uma imobiliária.
Na segunda feira, um grupo de jovens cortou a 2ª circular em plena hora de ponta. Os jovens foram retirados pelos próprios automobilistas que circulavam naquela artéria, com evidente recurso a violência.
E este é o foco principal, a violência atrai violência e a intolerância chama mais intolerância.
Estas novas formas de protesto são por isso ilegítimas e contraproducentes. Conduzem a uma escalada das ações e das reações. A um desrespeito crescente, pela democracia, pelos seus representantes e pelos seus mecanismos. A um desprezo pela propriedade privada. E a reações, tão ou mais violentas que as manifestações em si.
Este género de protestos ofende muitos cidadãos comuns. Pessoas normais que respeitam as regras democráticas e a ordem pública. Ofende e afasta. Afasta daquilo que realmente importa, as causas em discussão.
Não são só, meios que não justificam os fins. São meios que afastam os fins.