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Esta sexta-feira Mário Centeno, em tempos apelidado de "Cristiano Ronaldo das Finanças" e agora Governador do Banco de Portugal, apontou o elefante na sala. Disse que apesar de serem "contidos", os riscos relacionados com o crédito malparado e o fim das moratórias, os mesmos estão "presentes no balanço dos bancos" e constituem um desafio para as instituições financeiras em Portugal.
"Alguns indicadores de qualidade dos ativos deterioram-se no decurso da crise pandémica", acrescentou Centeno no encerramento da 5ª edição da Money Conference, dedicada à banca, numa iniciativa DN, TSF e Dinheiro Vivo.
Adiantou que é preciso continuar a monitorizar eventuais dificuldades no crédito e a evolução do malparado. Frisou que os bancos em Portugal fizeram o seu trabalho, ao identificarem as situações de clientes em dificuldades. Mas, sendo "contidas" não deixam de existir.
O tom das palavras do Governador contrasta com algum otimismo dos banqueiros que veem com tranquilidade o fim das moratórias para as famílias e as empresas.
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É factual, como disse o governador, que em Portugal, pela primeira vez, se registaram rácios de crédito malparado no setor, em geral, inferiores a 5%, o que compara com 17,9% em meados de 2016. Repito: 17,6%.
A realidade mudou muito e para melhor. Mas, em grande parte, destacou: "a situação melhorou porque a atividade de recuperação de créditos foi bem-sucedida".
A economia ainda não recuperou o suficiente para digerir todas as indigestões provocadas pela pandemia. Mais: nada nos faz crer que a Covid-19 já passou.
Depois de, em outubro, o Reino Unido ter registado 52 mil casos num só dia, agora é a Alemanha que está a passar todas as linhas vermelhas. O ministro da Saúde alemão alertou nesta semana que o país está a atravessar uma pandemia "massiva" de não vacinados contra a Covid-19.
Só na última semana, 666 pessoas morreram de Covid-19 no país de Angela Merkel, um pouco mais do que na mesma semana de há um ano. "Assustador", disse o chefe da agência de controlo de doenças da Alemanha ao descrever o recente pico nas taxas de infeção. Uma palavra forte que faz antever um difícil outono-inverno na Europa.
Em Portugal os casos de Covid-19 têm vindo a crescer sucessivamente. Ora, se a esta situação pandémica juntarmos a tempestade perfeita composta por escalada dos preços das matérias-primas, subida da inflação e taxas de juro e ainda a instabilidade política então o melhor é adicionarmos também muitas cautelas. Os tempos de incerteza estão para ficar.