
Daniel Oliveira defende que a aproximação de Pedro Nuno Santos ao núcleo duro do Governo é uma "boa arma para conquistar votos ao Bloco".
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No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, "A Opinião", Daniel Oliveira defendeu que a aproximação de Pedro Nuno Santos ao núcleo duro do Governo é uma "boa arma para conquistar votos ao Bloco", mas também uma "confissão de que a paternidade da geringonça não chega para que Costa se sinta sólido à esquerda".
"Toda a gente percebeu quando António Costa não ficou satisfeito quando Pedro Nuno Santos fez a intervenção que marcou o último congresso do Partido Socialista. Perante a evidência de que o jovem turco estava a apresentar a sua candidatura para liderança futura, o primeiro-ministro sentiu a necessidade de dizer que ainda não tinha metido os papéis para a reforma. Mas apesar de impulsivo, Costa não é de estados de alma, tem conseguido vencer os seus incómodos", começa por dizer o comentador.
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Daniel Oliveira sublinhou que o primeiro-ministro hoje tem preocupações maiores: "Tem eleições daqui a uns meses e, apesar de a maioria absoluta ser improvável não quer desistir desse objetivo. O flanco direito está seco pela autofagia do PSD, a falta de jeito de Rui Rio, a proliferação de grupelhos radicais e a eficácia cativadora, apesar de pouco cativante, de Mário Centeno. É à esquerda que se podem ganhar ou perder votos e o Bloco de Esquerda, a ensaiar um discurso mais moderado e a assumir a geringonça sem remorsos, é o alvo."
O comentador acredita que Pedro Nuno Santos pode ser o trunfo do PS para conquistar os eleitores mais voláteis: "Pedro Nuno Santos não é apenas uma boa arma para conquistar votos ao Bloco. É, acima de tudo, uma boa arma para segurar votos no PS, sobretudo os votos daqueles que gostam do Governo, mas não têm certeza de querer ver os socialistas sozinhos. E os que reveem um PS comprometido com o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, os impostos redistributivos e o Estado Social gostam do Estado que não se demita das suas funções sociais e económicas. Não se reveem no radicalismo retórico do Bloco ou nas tradições históricas do PCP, mas também não têm qualquer nostalgia do bloco central. Sem estes eleitores, o PS fica dependente dos que votam apenas na conjuntura. Chamam-lhes eleitores de centro, eu acho que são apenas mais voláteis."
Ainda assim, Daniel Oliveira vincou que a decisão de promover Pedro Nuno Santos para o núcleo duro do Governo não é só uma jogada tática eleitoral: "É a confissão de que a paternidade da geringonça não chega para que Costa se sinta sólido à esquerda, incluindo a esquerda do seu eleitorado que precisa de ter ao seu lado aquele que está mais bem colocado para lhe suceder, quando esta experiência governativa terminar."
"Claro que ao lhe dar força no Governo, Costa dá-lhe força para o futuro. É um risco controlado. Mesmo que Pedro Nuno Santos não seja um inimigo, os amigos querem-se perto...os outros mais perto ainda", rematou.
Texto: Sara Beatriz Monteiro