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Há um erro de análise na forma como o comentário político olha para o momento de Pedro Nuno Santos. Dando como certo que PNS acabará por substituir António Costa na liderança do Partido Socialista, não se pode esperar que ele se assuma como oposição interna. O papel de Pedro Nuno Santos não é criticar o partido que um dia vai liderar, porque isso seria um suicídio político, nenhum socialista lhe perdoaria a afronta.
Bastou um programa na SIC Notícias para se perceber que o posicionamento político não é um pin para usar na lapela, mas uma questão ideológica que define a forma de governar. Quem começa por se afirmar social-democrata e assume corajosamente que, sendo primeiro-ministro, manteria o controlo do Estado na TAP; cobraria uma taxa extraordinária sobre os lucros extraordinários da banca e não alteraria as taxas de IRS, porque essa alteração beneficia os rendimentos mais altos e nada dá aos mais baixos, acaba por se afirmar como a verdadeira alternativa à governação de António Costa.
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Internamente, a sucessão de Fernando Medina representa a mera continuidade e nenhuma cópia melhora o original. Externamente, a alternância representada por Luís Montenegro não significa alternativa, porque as opções são iguais às do primeiro-ministro, divergindo apenas numa questão de intensidade.
O programa conduzido em forma de entrevista por Nelma Serpa Pinto, uma das mais promissoras jornalistas da nova geração, é de visualização obrigatória. O momento político, a exigir debate com conteúdo sobre as questões mais importantes, ganha em ter Pedro Nuno Santos na primeira linha. Saibamos todos (jornalistas, comentadores, políticos de todos os partidos, eleitores de todos os quadrantes) aproveitar a oportunidade para discutir as diferentes visões do país. Vamos celebrar os 50 anos do 25 de Abril, sabendo que falta cumprir muita da esperança que a Democracia nos trouxe. Há virtudes no centro político moderado, mesmo quando não se vislumbram grandes diferenças entre o que faz o PS e o que faria o PSD, mas o país ganharia em livrar-se da polarização em que as partes não se querem ouvir dedicando mais tempo ao debate ideológico em que se afirmem os valores democráticos, à Direita e à Esquerda, para dar a Portugal uma sociedade mais justa.
Pode-se concordar ou discordar das ideias de Pedro Nuno Santos. Seguramente, o que não se pode dizer é que ele seja de meias-tintas.