Corpo do artigo
Os orçamentos dos Estados baseiam-se sempre nos indicadores fundamentais para estimar receitas e, com base nessas, prever e acomodar as futuras despesas. Expectativas quanto ao crescimento económico nacional e internacional, preços da energia (petróleo), taxa de inflação, taxas de juro e custo da dívida pública fazem parte do bouquet que permite desenhar as folhas de Excel para o futuro.
2022 tinha tudo para ser o ano do crescimento mundial pós-pandémico, mas de Lisboa a Luanda refazem-me hoje todos os cálculos para acomodar uma nova guerra na Europa. Todas as contas públicas o vento levou.
Resta ainda saber quanto tempo durará o conflito, mas, pelas palavras de Vladimir Putin (presidente da Rússia) proferidas ontem, não há sinais de abrandamento da invasão à Ucrânia. Assim, um dos efeitos foi a subida do preço do barril de petróleo que já ultrapassou a barreira dos 100 dólares e alguns analistas de mercado antecipam uma subida até aos 140 dólares. Os custos da energia vão disparar e em Portugal far-se-ão sentir no bolso das famílias e das empresas já a partir da próxima semana.
TSF\audio\2022\02\noticias\26\26_fevereiro_2022_a_opiniao_de_rosalia_amorim_
Contudo, o que é uma má notícia para Portugal poderá ser uma excelente notícia para Angola e, indiretamente, para as empresas portuguesas com negócios e investimentos em terras da Rainha Ginga.
Com aprovação final em 14 de dezembro último, o documento do Orçamento Geral do Estado de Angola prevê um preço base do barril de petróleo de 59 dólares. Um valor que, à época, foi assumido como conservador, mas que a partir de agora poderá constituir uma boa surpresa para aquela economia. A escalada desta matéria-prima poderá traduzir-se em importantes receitas extraordinárias para o Tesouro. Para este ano, Angola tinha estimado um crescimento real de 1,6% para o setor petrolífero (incluindo o gás), enquanto que para o setor não petrolífero as projeções indicavam um crescimento de 3,1%.
O atual conflito na Europa beneficiará a nação com quem Portugal tem uma relação história. É um dos mais importantes mercados em trocas comerciais e investimentos, mas com a pandemia a ligação perdeu gás. No global, as exportações de mercadorias de Portugal para Angola sofreram uma quebra de 29,65% em 2020 face a 2019, sendo o país o nono principal destino das exportações lusas. Também as importações de mercadorias com origem em Angola sofreram uma quebra de 64% em 2020 face a 2019. Com o petróleo a manter-se em alta, a economia mwangolé tem tudo para se reenergizar. E Portugal agradece.