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Para a memória futura, pelo menos aquela que se narra com base em fontes que terão presenciado tão insólito momento, porque as atas só serão conhecidas 30 anos depois do fim do mandato do atual inquilino de Belém, a história da segunda temporada de verão do Conselho de Estado conta-se em breves linhas.
A primeira parte decorreu já no final de julho. António Costa teve de sair a meio sem ter respondido às intervenções dos conselheiros por ter de viajar para a Nova Zelândia. Terá sido uma reunião dura para o primeiro-ministro, com fortes críticas à governação.
Marcelo marcou segundo encontro para ouvir o primeiro-ministro. É aqui que entram as crónicas.
O ambiente foi tenso, com alegado silêncio de Costa e um longo discurso de Marcelo sobre o estado da Nação. Mas já estava tenso pelo menos desde maio com o episódio do assessor do ministro das Infraestruturas João Galamba, envolvendo o furto de um computador e a intervenção dos Serviços Secretos. Marcelo Rebelo de Sousa nunca mais deixou de estar ainda mais atento e interventivo no dia a dia. E até enumerou os seus focos de atenção: rendimentos dos cidadãos, funcionamento das escolas, preço da habitação.
O resto é história com testemunhas. O presidente chumbou o pacote da habitação, aquela que é a grande reforma do Governo, já se envolveu na discussão do Orçamento e não tira pressão sobre as políticas ou a falta delas.
O primeiro-ministro, político experimentado, também contribui para o avolumar de tensão, culminando na véspera do Conselho de Estado com o provérbio amputado de cada um no seu galho. Porque ele é um "fazedor, não um comentador".
Marcelo tem tanta legitimidade para presidir como Costa, com maioria absoluta, para governar. Mas perde o país, quando parece não haver pontes entre os palácios.