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Amanhã, 25 de Abril, celebramos o início da nossa Liberdade há 49 anos. E, por ser, justamente, o dia da Liberdade, temos duas tarefas importantes.
A primeira é a de fugir à tentação de levar à letra o nosso passado ditatorial de décadas. Preocupa-me a ênfase no passado como se já tivéssemos dobrado o cabo da ditadura para sempre. É um erro crasso, pois se não defendermos, promovermos e lutarmos pela nossa democracia liberal todos os dias, corremos o risco sério de a perdermos.
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A segunda tarefa é a de não esquecer aqueles que, pelo mundo fora, também querem viver em Liberdade.
À cabeça, as meninas e mulheres no Afeganistão e em muitos outros países deste mundo. Meninas e mulheres que querem ir à escola, à universidade, vestir-se como querem, namorar e casar com quem querem e ter uma profissão e uma carreira fazendo o que gostam.
Não esquecer os opositores de ditaduras e democracias iliberais que, contra tudo e contra todos, não baixam os braços. Não esquecer aqueles que, mesmo correndo risco de vida, de serem violados, torturados, envenenados, não saem do seu país. Apesar dos muitos apelos.
Do mundo dos vivos quero destacar um desses, um russo de 41 anos: Vladimir Kara-Murza. A sua dissidência e a sua coragem são impressionantes, como podemos atestar pelos excertos seguintes da sua última declaração ao Tribunal em Moscovo:
«Estou na prisão pelas minhas opiniões políticas. Por falar publicamente contra a guerra na Ucrânia. Pelos muitos anos de luta contra a ditadura de Vladimir Putin. (...) Subscrevo cada palavra que disse e cada palavra de que fui acusado por este tribunal. Só me culpo pelo seguinte: por não ter sido capaz ao longo dos anos da minha atividade política de convencer os meus compatriotas e políticos em número suficiente nos países democráticos do perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e para o mundo. Hoje, isso é óbvio para todos, mas a um preço terrível - o preço da guerra.
Nas últimas declarações ao tribunal, os réus geralmente pedem a sua absolvição. Para alguém que não cometeu qualquer crime, a absolvição seria o único veredito justo. Mas, eu não peço nada a este tribunal. Eu já sei qual vai ser o veredito. Soube-o há um ano quando vi pelo espelho retrovisor pessoas com fardas e máscaras pretas atrás do meu carro. É esse o preço que se paga por falar a verdade na Rússia de hoje.»
Vladimir Kara-Murza foi condenado a 25 anos de prisão.
Por nós e pelos que não podem: Viva a Liberdade!