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A organização "Iniciativa para a Boa Governação e Direitos Humanos", sediada na República Democrática do Congo, juntamente com a Amnistia Internacional, pormenorizou esta semana num novo relatório, a forma como a expansão das operações mineiras efetuadas por empresas multinacionais naquele país, conduziu a desalojamentos forçados de comunidades inteiras, retirando-as das suas casas e terras agrícolas.
As minhas de cobalto e de cobre tem sido a razão para isto.
A procura das chamadas "tecnologias de energia limpa" provocou uma procura proporcional de metais como o cobalto e o cobre, essenciais para o fabrico da maioria das baterias de lítio.
Estas baterias andam nos nossos bolsos, nos nossos telemóveis. Andam nos computadores portáteis, andam nos carros elétricos.
A República Democrática do Congo tem as maiores reservas mundiais de cobalto e é a sétima maior do mundo nas reservas de cobre.
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A descarbonização da economia global é uma coisa excelente. É uma coisa urgente! Mas não pode impulsionar novas violações dos direitos humanos e há comunidades inteiras neste Congo quem têm sido intimidadas para abandonar as suas casas e muitas vezes induzidas em erro para consentirem realojamentos de condições de miséria.
Não têm qualquer mecanismo de reclamação, de responsabilização ou de acesso à justiça. Estas famílias têm sido vítimas de desalojamentos forçados.
As novas fábricas de baterias deverão intensificar muito a produção nos próximos dez anos. Os investidores estão a retirar-se cada vez mais dos combustíveis fósseis - e bem - e a reinvestir em energias renováveis. O problema é que o fazem muitas vezes sem processos sólidos de diligência devida para garantir que os seus investimentos não contribuem para violações dos direitos humanos.
A transição energética é muito necessária e urgente. As alterações climáticas e os fenómenos climáticos extremos conseguiram recentemente perturbar o funcionamento de uma fábrica na Eslovénia que por sua vez paralisou a fábrica Autoeuropa em Portugal, e isso acontecerá pelo menos até novembro, com evidentes prejuízos e perdas de emprego.
Não pode ser mais clara a disrupção que aí vem a caminho graças à poluição e aos combustíveis fósseis.
No entanto a transição energética, ainda que urgente e necessária, não pode ser feita do mesmo modo que foi explorado o petróleo: pisando todas as pessoas que viviam perto destas fontes de riqueza.
O mundo além de energia limpa, precisa de ética exemplar. Os negócios não podem ser exceção.
