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A semana educativa foi assinalada pelo regresso ao ensino não presencial, gerando os mais diversos sentimentos e polémicas, após interregno forçado, e inesperado, de duas semanas de pausa letiva.
Motivado principalmente pela generosidade e altruísmo dos professores, comodantes que emprestam os seus meios digitais, sob os auspícios de um "contrato implícito", cuja comodatária (a tutela) se tem vindo a servir do que não é seu, o processo ensino-aprendizagem segue o seu percurso pelo caminho menos desejável, mas o mais ajustado possível diante da dura realidade que nos assola.
A universalização dos meios digitais mantém-se como mero anúncio (vapor?), o que dificulta a vida de alunos e docentes. A fraca qualidade (em alguns pontos do país) da rede wi-fi é forte entrave à realização das aprendizagens à distância, ainda que mitigado pelas comunidades educativas num esforço notável e eficaz.
Sem comprometimento cronológico, a comunicação do Presidente da República ao Governo é de extrema sensatez: gizar um plano estratégico de regresso à escola. Não querendo iludir os portugueses, parece-me razoável e oportuno dar a esperança do retorno, não sem antes vindicar a realização do mais importante trabalho de casa - continuar a cumprir com rigor as medidas do estado de emergência.
O faseamento na operacionalização desta medida proativa merece consenso científico, e político, iniciando-se pelos mais novos, alargado paulatinamente aos níveis de ensino subsequentes, com realce para o critério da autonomia dos alunos. Na devida altura, as recomendações dos especialistas em saúde pública serão essenciais, avalizando uma decisão difícil, mas necessária.
E, enquanto os olhares estão atentos a todas estas questões, dou nota de dois factos, um positivo e outro negativo, no tocante ao panorama educativo nacional, que não devem ser escamoteados:
1. Taxa de abandono precoce de educação e formação - em 1992, o valor em causa atingia 50%, demonstrativo das fragilidades de um crescimento insustentável e que nos colocava em lugares nada condizentes com as aspirações de um país a ambicionar a prosperidade. Sendo um indicativo dos mais importantes dos sistemas educativos, a taxa em causa atingiu o valor de 8,9% em 2020, superando o compromisso europeu de 10%, estando as escolas de parabéns pelo trabalho empenhado desenvolvido no alcance de tão prazeroso resultado, só possível com o contributo inestimável da classe docente, que mais uma vez aparece na linha da frente na obtenção deste desiderato;
2. Avaliação do Desempenho Docente - é mais um desincentivo e uma machadada à carreira docente, colocando em evidência o tratamento cruel que é destinado a quem tudo faz pela Educação. Por esta altura, nas escolas (e nos lares dos professores), o descontentamento (e revolta) é generalizado, e a frustração torna-se viral: i) pelas incompreensíveis travagens duplas na carreira - do 4.º para o 5.º e do 6.º para o 7.º escalões - uma vez que as quotas, este ímpio bode expiatório, não permitem, na maior parte das vezes, a manutenção da classificação final das menções de Muito Bom e de Excelente, relegando os professores para bolsas onde podem ficar retidos por um período de vários anos; ii) as mesmas cotas que promovem a inevitabilidade de propostas de classificação de Excelente redundarem, na generalidade dos casos em processo avaliativo, na comum menção de Bom; iii) pela injustiça que faz com que a grande parte dos docentes não aceda aos últimos escalões, mesmo podendo ter sido avaliados com menção máxima, desmotivando-os e levando-os a questionar as razões que os impele a excederem-se nas suas práticas diárias.
Está na hora de virar as agulhas para os legítimos anseios dos excelentes profissionais que admiravelmente se têm aguentado com elevação em prol da Educação. Estão à espera de quê?