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As sucessivas audições parlamentares dos últimos dias são mais atrativas que muitas telenovelas ou filmes de ficção, aumentando exponencialmente o número de telespetadores do Canal Parlamento (AR TV), mas, de igual forma, dos canais televisivos que transmitiram até à exaustão as audições parlamentares a ministros, ex-ministros, secretários de Estado, chefes de gabinete, CEO, entre outros, para gáudio da generalidade dos deputados intervenientes.
Como se não bastassem as inquirições realizadas nestas sessões de trabalho, nos debates quinzenais a temática é retomada, sendo exposta e respondida pelo primeiro-ministro, gerando novamente elevados índices de audiência aos canais que os transmitem.
Muitos abstraem-se da narrativa elaborada pelos intervenientes, valorizando mais a linguagem corporal, outros exaltam as "três rondas" de perguntas, qual sequela de episódios instantâneos, sem necessidade da antevisão das "cenas dos próximos capítulos", dada a previsibilidade das mesmas.
Não fosse o programa "Isto é gozar com quem trabalha" ter entrado de férias, Ricardo Araújo Pereira teria uma exuberância de rábulas em torno destas fantásticas comissões de inquérito a poder preencher várias emissões.
Certo é que estas "verdadeiras telenovelas" custam ao país muito dinheiro, que teria um melhor destino se fosse reforçar, por exemplo, o investimento na Escola Pública.
Mas a trama também se adensa na Educação.
Esta semana ficamos a saber, através das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) que o diploma aprovado em Conselho de Ministros a 18 de maio - sobre a recuperação do tempo de serviço de professores - ainda não está nas suas mãos para tomada de decisão. Até ao momento não foi dada uma explicação para este facto, passado praticamente um mês da sua determinação.
Assistimos a uma história interminável de um filme que está em cartaz desde praticamente o início do ano letivo, protagonizado pelo ministério da Educação e os sindicatos de professores, e que merece que o enredo seja alterado, pois já se percebeu que o assunto está a plissar na teimosia e intransigência com que as duas partes se acusam mutuamente.
Se no início da contenda eu afirmava que o ministro das Finanças se deveria envolver nas negociações, neste momento, e devido ao facto do assunto já estar num patamar superior, é essencial a mediação do Presidente da República, de modo a que o próximo ano letivo flua normal e positivamente.
Aguarda-se a entrada em cena de MRS, que ajude a colocar "ordem na casa", reponha a harmonia e devolva a esperança a uma classe desgastada, descontente, mas que se empenha e dedica à profissão, e se recusa a aceitar a culpa, dado que o todo não se revê numa parte (mínima), pela exibição lamentável de cartazes com uma caricatura de péssimo gosto, atitude reprovada pela esmagadora maioria das pessoas, independentemente das cores partidárias, profissões ou outros critérios.