Corpo do artigo
Uma das perguntas mais frequentes sobre política internacional é esta: como pode um Estado que não é uma grande (nem mesmo média) potência ter impacto? Há Estados que têm forças armadas e tecnologia militar poderosas, outros com economias sustentáveis e desenvolvidas, territórios com recursos naturais significativos e outros com sorte ao nível da sua geografia. Há países que conseguem mesmo fazer o pleno.
Os factores de poder são diversos e multifacetados e, quando integrados numa estratégia, são a chave de uma grande potência.
Acresce que, quando olhamos para o mundo, o que muitas vezes sobressai são as guerras, os conflitos, o sangue e as tragédias humanitárias. São tantos os lugares neste mundo nos quais a realidade é esta. Temos, aliás, acompanhado uma em particular nos últimos meses. O Afeganistão é, infelizmente, mais uma dessas páginas tristes da sociedade internacional. Mas a pergunta mantém-se: perante esta fotografia do mundo, o que pode um país de menor dimensão fazer?
Tendo como pano de fundo esta realidade internacional tão dura, hoje quero partilhar convosco uma boa notícia e como Portugal tem respondido a esta pergunta de forma exemplar. Recebemos as jovens da selecção de futebol feminina do Afeganistão e vamos também admitir um grupo de estudantes de música. Nas palavras do jornal The New York Times, estes "músicos, professores e as suas famílias são de uma escola de música que promove [ou melhor, promovia] a educação musical também no feminino". Um artigo que conta ainda com as reacções de um dos mestres do violoncelo, Yo-Yo Ma, entre outros.
TSF\audio\2021\10\noticias\07\07_outubro_2021_a_opiniao_raquel_vaz_pinto
Em todo este processo, confesso o meu orgulho na actuação de todos os que ajudaram, vindos da sociedade civil e do nosso Governo.
A actuação humanitária de Portugal merece este destaque. Estamos a falar de refugiados que fogem de um regime que os entende como ameaças. E este é o ponto. Ameaças porquê? Porque estas meninas jogam à bola. Porque estes jovens gostam de música. E a quem? A estas e estes jovens, aos que os treinam e os ensinam e às suas famílias, que, aos olhos dos Taliban e de toda a sua crueldade, devem ser igualmente castigadas. Ver as fotografias da alegria destas miúdas no relvado a jogarem à bola derrete o coração mais empedernido. Desde que não seja Taliban, é claro.
Ajudar estas jovens é uma forma de fazer a diferença. Para que elas e as suas famílias possam fazer as suas escolhas, sejam elas quais forem: o que querem estudar e onde querem viver. E, sobretudo, ter a possibilidade de seguir os seus sonhos. Numa entrevista à Reuters, uma destas jovens com 15 anos, de seu nome Sarah, contava o seu sonho: "jogar futebol de forma profissional e, quem sabe, um dia, conhecer o meu ídolo, a estrela Cristiano Ronaldo".
Ao dar refúgio a todas estas pessoas, aquilo que Portugal ofereceu é algo que não tem preço: a possibilidade de sonhar sem medo.
*A autora não segue o acordo ortográfico de 1990