Portugal no "Grande Jogo" do Mediterrâneo Ocidental. A Rússia no "Grande Jogo" do Mediterrâneo Oriental
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A visita da semana passada (25 a 27 Agosto) do Presidente (PR) francês, Emmanuel Macron a Argel, veio revelar a iniciativa de quem não quer perder a iniciativa na Europa, em "tempos de cólera". Ou seja, a guerra na Europa veio recentrar a proximidade do mediterrâneo sul, do gás argelino e da tendência/confirmação das crescentes dependências do norte versus sul. O gás argelino apresenta-se como alternativa ao corte russo do mesmo e actualmente os "donos da Europa" esboçaram dois planos antagónicos, com Portugal na cabeça de um deles. O Chanceler alemão, Olaf Scholz, verbalizou este mês querer ver Sines a bombar gás para a Europa Central, fazendo do "elefante branco" sempre desconsiderado, um "tubarão-azul" no topo da cadeia-alimentar.
O que Macron foi fazer a Argel foi, de certa forma, revelar um plano francês que contraria o alemão. Já antes disso, a França tinha contrariado a proposta alemã, ao não permitir a extensão da construção de gasodutos espanhóis, para lá dos Pirenéus, numa primeira força de bloqueio à iniciativa alemã. O plano francês trata-se de um pacote que combina terminais de gás marítimos ainda por construir e já operacionais, tendo na trasfega o principal modus operandi. O plano alemão também veria melhoramentos e adaptações, aliás já programadas, para o Terminal Marítimo de Sines, mas tiraria proveito da excelente malha de gasodutos espanhóis que apresentam soluções ao estilo Packman.
O PR francês foi a Argel apresentar ao PR Tebboune uma proposta para a questão sahraoui e para o Sahel. O gás argelino aparece naturalmente como moeda-de-troca, sendo que existe também uma vontade silenciosa entre Alemanha e França, em ser-se o primeiro país da União Europeia, a seguir a Espanha, a reconhecer o plano marroquino para a autonomia do "Sahara Ocidental", enquanto Sahara Marroquino, causando o menor dano possível na relação com a Argélia. Portugal encontra-se na cabeça desta corrida, dando-nos uma nova perspectiva. A de que não nos encontramos no "cu da Europa", mas antes na cabeça!
A Rússia no "Grande Jogo" do Mediterrâneo Oriental!
Aqui é outro jogo, pautado pela guerra na Líbia, por a Rússia estar alinhada com o Egipto por causa do Canal do Suez que permite acesso directo ao Oceano Índico, por causa das bases que tem em Latakia e Tartus na Síria, daí a importância da Crimeia (acesso directo ao Mediterrâneo), daí a importância de manter boas relações com a Turquia, que controla o Bósforo e Dardanelos, que bloqueados fazem do Mar Negro um grande lago, para além da Turquia ser o inimigo directo russo na Líbia e na Síria.
A Rússia pretende a Cirenaica líbia (costa leste) sob seu domínio pelo interesse de construção de uma grande base naval em Benghazi e a Turquia pretende toda a costa líbia, sob justificação de unificação do país, mas o seu principal interesse é o Tratado Marítimo assinado em Novembro de 2019 com o Governo de Unidade Nacional líbio e que lhe dá, à Turquia, direitos quase soberanos sobre toda a costa líbia. Assim se reconstrói o antigo Império Otomano, debaixo do nariz de Roma!
A Acontecer/A Acompanhar
- Inaugurada no sábado 27, a Casa da Cultura Luso-Árabe de Silves, apresenta uma Exposição de Pintura de Kasia Wrona e Fernando Lobo;
- 02 de Setembro, sexta-feira a partir das 18h e com entrada livre, celebração dos 50 anos de carreira de Bonga, no Centro Cultural de Cabo-Verde, em Lisboa.
Raúl M. Braga Pires é autor do site Maghreb-Machrek, é Politólogo/Arabista e escreve de acordo com a antiga ortografia
